DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/04/2010

Outras metamorfoses da memória

Foto: Irmãos Lumière (1904)

Poema 4

Coisas que guardamos
Sempre: antes fitas e cartas, bocados de ternura,
Lembro-me: a minha avó e um caracol louro de mim criança

Evanescentes as coisas que guardamos,
Às vezes encontrá-las por gavetas, às vezes na memória,
Invenções tantas só para mais ninguém: o meu diário
Encapado num papel de flores, passeando na pasta
Em sólido trajecto

Coisas guardadas como essa,
Há curto tempo, tão bonita que pensei outra vez:
Só para mais ninguém, que assim a comoção é minha só
E me posso espantar de cada vez que a lembro

Enquanto estão assim,
Elas são nossas, as coisas que guardamos:
Intactas, a apetecer dizer incólumes,
Por comovidas gavetas e memórias

Ana Luísa Amaral, poeta portuguesa, doutora em Literatura Inglesa, professora da Universidade do Porto, em Portugal.

6 comentários:

  1. se siente ese argumento de vida plena.
    un abrazo

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  2. LIndo poema,mas que imagem perfeita!
    Bjs!

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  3. Você sempre nos traz imagens lindas
    dessas pequenas maravilhas que ponteiam
    nossos dias - mesmo que não percebam.
    Um dia a poesia será ainda mais gratuita,
    saíram dessas páginas coloridas e ganharão
    as ruas, e então, as minhas, as suas
    mãos dançarão riscando canções de alegria!

    Saudações! Tau!

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  4. Lindo poema sobre a memória, um dos mais fascinantes e comoventes temas da vida.

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  5. Não conhecia esse texto. Que belos pretéritos!

    Bjs, bom fim de semana, e inté!

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  6. Olá!
    Essas fotos coloridas dos irmãos Lumiére realmente são muito legais! Outro dia recebi uns slides dessas fotos e adorei... combinou perfeitamente com a poesia.
    Bjão!

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