DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

30/05/2011

Da cólera ao silêncio



Se não gostar de ler, como vai gostar de escrever? Ou escreva então para destruir o texto, mas alimente-se. Fartamente. Depois vomite. Pra mim, e isso pode ser muito pessoal, é enfiar um dedo na garanta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta. (...) Escrever - e você sabe disso - pode eliminar essa sensação de gratuidade no eixtir, de coisas o tempo todo fugindo e se transformando em passado. Eu acho então que se escrever te dá um sentido para estar vivo (ou a ilusão de um sentido, que importa?) então vai e escreve e diz tudo e rasga o coração, as vísceras, expõe tudo, grita, esperneia - no papel. Isso é escrever. Tira sangue com as unhas. E não importa a forma, não importa a "função social", nem nada, não importa que a princípio, seja apenas uma espécie de auto-exorcismo. Mas tem que sangrar a-bun-dan-te-men-te. Você não está com medo dessa entrega? Porque dói, dói, dói. É de uma solidão assustadora.


Caio Fernando Abreu, jornalista, escritor e dramaturgo. Santiago(RS) - 1948-1996

Instalação de Mathilde Roussel Giraudy

7 comentários:

  1. EXCELENTE TEXTO. UN GUSTO VISITAR SU ESPACIO.
    UN ABRAZO

    ResponderExcluir
  2. É uma solidão assustadora! Mas é mesmo um mergulho necessário. Para que existir não seja tão vazio; para que a gente não fique no raso, boiando ao som dos acontecimentos. A ilha desse acontecimento é inevitável. A ilha do pensamento é inevitável. Dialogar com o mundo é sangrar também, é sangroso, é sangrento,é solitário. É enfiar o dedo na goela também. Um beijo, grande interlocutora!

    ResponderExcluir
  3. A instalação é um verdadeiro delírio! Vou procurar saber da artista, Cirandeira! As figuras são etéreas, delirantes. A sensibilidade para as janelas foi comovente; esse exercício de deslocamento na escrita para sentir e entender o que o Outro sente é salutar! Obrigada!

    ResponderExcluir
  4. Não acredito na sinceridade de quem escreve sem gostar de ler. E não acredito na solidão assustadora da escrita. A escrita é a solidão acomodada em verbos, substantivos e frases dos nossos devaneios. Ajuda mesmo quando agita. E a gente acaba feliz mesmo quando está triste.
    Escrever é se recuperar, seja lá do quê :)
    beijosss

    ResponderExcluir
  5. Gostei muito da instalação, do textos e dos comentários. BJs.

    ResponderExcluir
  6. Não tenho esta visão, não acho que seja uma solidão assustadora, acho que pode ser um reencontro, um prazer. Depende da intensidade e da pessoa. É aquilo que já ouvimos; 'quem tem vida interior, jamais padecerá de solidão'.

    Porém, a leitura, para quem quer escrever, é primordial. Indispensável.

    Beijosss
    Tais Luso

    ResponderExcluir