DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

05/08/2011

O desfecho






Prometeu sacudiu os braços manietados

E súplice pediu a eterna compaixão,

Ao ver o desfiar dos séculos que vão

Pausadamente, como um dobre de finados.


Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião,

Uns cingidos de luz, outros ensanguentados...

Súbito, sacudindo as asas de tufão,

Fita-lhe a águia em cima os olhos espantados.


Pela primeira vez a víscera do herói,

Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,

Deixou de renascer às raivas que a consomem.


Uma invisível mão as cadeias dilui;

Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;

Acabara o suplício e acabara o homem.


Machado de Assis

"Prometeu", tela de Menashe Kadishman

5 comentários:

  1. Prometeu e cumpriu-se a viagem do verbo.

    Beijos, cirandeira!

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  2. Esse Machado sabia muito bem da vida...!

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  3. Belíssimo, o Prometeu de Machado.
    Faz refletir.

    Abç fra/terno.

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  4. Pobre Prometeu... seu sofrimento nos encanta!

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  5. O sofrimento dele é o nosso de cada dia...haja fígado pra resistir, né não? :)

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