DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

15/07/2012

A Quimera

A Quimera, de Arezzo

A primeira referência à Quimera está no livro VI da Ilíada. Alí está escrito que era de linhagem divina e que era leão pela frente, cabra no meio do corpo e por trás uma serpente; lançava fogo pela boca e foi morta pelo formoso Belerofonte, filho de Glauco, conforme o haviam pressagiado os deuses. Cabeça de leão, ventre de cabra e cauda de serpente é a interpretação mais natural que admitem as palavras de Homero, porém, a Teogonia, de Hesíodo, a descreve com três cabeças, e assim está representada no famoso bronze de Arezzo, que data do século V. Na metade do lombo está a cabeça de cabra, em uma extremidade a de serpente, em outra a de leão.
No livro VI da Eneida reaparece "a Quimera armada de chamas", o comendador Sérvio Honorato observou que, segundo todas as autoridades, o monstro era originário da Lícia e que nessa região há um vulcão que tem o seu nome. A base está infestada de serpentes, nas encostas há prados e cabras, o cume exala labaredas e nele têm guarida os leões; a Quimera seria uma metáfora dessa curiosa elevação. Antes, Plutarco havia sugerido que Quimera era o nome de um capitão com tendências à pirataria, que fizera pintar em seu barco um leão, uma cabra e uma cobra.
Essas conjeturas absurdas provam que a Quimera já estava cansando as pessoas. Melhor que imaginá-la seria convertê-la em qualquer outra coisa. Era demasiado heterogênea: o leão, a cabra
e a serpente (em alguns textos, o dragão), opunham-se a formar um único animal. Com o tempo,
a Quimera tende ser "o quimérico", um famoso gracejo de Rabelais ("Se uma quimera, bamboleando-se no vácuo, pode engolir segundas intenções") marca muito bem a transição. A incoerente forma desaparece e a palavra fica, para significar o impossível: "Ideia falsa, vã imaginação", é a definição de quimera que agora dá o dicionário.
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Jorge Luís Borges e Margarita Guerrero, em O Livro dos seres imaginários.

Um comentário:

  1. Pois bem Ci, acho que a quimera continua sendo um leão... distante, distante, tão apaixonante quanto perigosa...ai, ai...

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