DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

22/01/2014

Você gosta mesmo de poesia?

 



Entre  a  agonia  da  página  em  branco  ou  da  tela  do  computador,  é  sempre  bom  lembrar:  “há uma  gota  de  sangue  em  cada  poema”,  como  dizia  Mário de Andrade.  Essa  gota  de  sangue,  na condição  de  metáfora,  significa   a  urgência  de  não  separar  a  arte  da  existência,  o poema da vida  e  da  convivência.  Isso  que  não  se  aprende  nos  dicionários  nem  se  apreende  das gramáticas,  retóricas  e  poéticas. Nosso  desamparo  fundamental.  Nossa  perplexidade  diante  e  dentro  da “máquina do mundo”. Agonia  em  saber  que  gosto  se  discute.  E  que  fazer   poesia é  talvez  a  mais  fácil  das  artes.  Agonia  de  suportar  e  transcender  nossas  ingenuidades,  teimosias,  vaidades  e  até  mesmo  desinformações. Agonia  para  enfrentar  a  necessidade  de  LER  poemas:  ler  interpretando,  ler  discutindo  e  sobretudo  reler nossos  poetas  fundamentais.  Isto não é fácil.
  Como  escrever  poesia,  poemas  (e até mesmo “atentados poéticos”),  ignorando  inocentemente  as obras  (in)completas  de  Bandeira,  Cardozo,  Drummond,  Cabral,  Jorge de Lima,  Murilo Mendes, Mário  e  Oswald  de  Andrade,  Sousândrade,  Gregório de Matos  e  Guerra...? E  os  nossos contemporâneos?
Essa  agonia  –  rima  pobre  e  rica  com  poesia  –  é  nossa  guerra  particularíssima  contra  a hipocrisia  de  nossa  preguiça  mental,  pedante,  provinciana,  tão  eterna  quanto  efêmera.  Que seja nosso  desafio . Desejar  saber  que  POESIA  (em  maiúscula  ou  não) é  um  trabalho  permanente com  a  linguagem;  que  as  palavras  são  palavrAÇÕES;  que  as  inspirações  são  válidas  quando passam  pelo  crivo  das  transpirações  e  transfigurações  estéticas;  que  o  aparentemente  fácil  pode  ser  o  mais  difícil,  sem  temer  as  incompreensões  e  até  a  má  vontade  dos  leitores;  que “lutar  com  palavras  é  a  luta  mais  vã” (Drummond),  sem  temer  a  urgente  necessidade  da metacrítica,  da  metalinguagem  e  das  potencialidades  da  alegria  conjugando-se  com  a  agonia de  sempre.


Jomard Muniz de Brito, Recife, 1937 - Poeta, escritor, cineasta, é autor de Inventário de um feudalismo cultural - Terceira aquarela do Brasil - Arrecife do desejo, entre outros.. 

2 comentários:

  1. Gostei, sobretudo, disso:".. a urgência de não separar a arte da existência, o poema da vida e da convivência". Eu imagino que, em todo Poeta há um anseio secreto em SER Poesia; ir além do FAZER. Talvez nem todos sintam, saibam, mas acredito nisso. Acho também sempre muito interessante, nesse mundo descartável, olhar as datas desses textos. O que é essencial fica e vale para sempre. Beijos, Ci!

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  2. GRACIAS POR COMPARTIR TAN INTERESANTE TEMA. MUY INSTRUCTIVO PARA MI. GRACIAS.
    BESOS

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