DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

29/03/2014

Um poema de Golgona Anghel ( Romênia, 1979)





Vim porque me pagavam,

e eu queria comprar o futuro a prestações.
Vim porque me falaram de apanhar cerejas
ou de armas de destruição em massa.
Mas só encontrei cucos e mexericos de feira,
metralhadoras de plástico, coelhinhos da Páscoa e pulseiras de lata.

A bordo, alguém falou de justiça
(não, não era o Marx).
A bordo, falavam também de liberdade.
Quantos mais morríamos,
mais liberdade tínhamos para matar.
Matava porque estavas perto,
porque os outros ficaram na esquina do supermercado
a falar, a debater o assunto
.
Com estas mãos levantei a poeira
com que agora cubro os nossos corpos.
 
Com estas pernas subi dez andares
para assim te poder olhar de frente.
 
Alguém se atreve ainda a falar de posteridade?
Eu só penso em como regressar a casa;
e que bonito me fica a esperança
enquanto apresento em directo
a autópsia da minha glória.
 
 
[em Vim porque me pagavam, Mariposa Azual, 2011]

3 comentários:

  1. UN POEMA MARAVILLOSO... GLORIOSO, TERRIBLEMENTE DOLOROSO...

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  2. Gosto desta poeta, romena e escreve em portugues...

    kandandu

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  3. Ci,
    Por vezes a dureza das coisas não se compadece dos manuais, quanto mais de hipocrisias.
    Poema muito bom, tocou-me em cheio.

    Beijo :)

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