DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

06/10/2015

Anotações



 
Tantas histórias inacreditáveis, daquelas que pensamos ser pura ficção... Mas não são. Tanta coisa vivida, quase nada marcado no relógio, algumas me foram contadas pela boca. E os livros? entro e saio de páginas e mais páginas, tum tum tum pulsa o coração e vão pingando palavras no tic-tac, no pulsar da noite lenta, no pulsar do sangue das horas, e então fica difícil arrumar tudo isso num quarto vazio em plena madrugada. A luz do abajur enche de sombras as lembranças; os pensamentos vão se tornando pesados pelas esquinas desertas e silenciosas; as palavras saltam das mãos esparramam-se pelo chão enquanto a mente fervilha, resiste ao sono.
O cheiro da madrugada, os ruídos distantes, uma vida inteira a desfilar através das sombras, da bruma ensandecida da vida...
O vento sibila pelas veias tentando acender a escuridão da noite. Os olhos querem dormir e depois acordar flutuando sobre as águas...O calor está insuportável, parece que o vento foi engarrafado para soprar em alto mar.
Mais um dia branco e mudo. As páginas do caderno com suas linhas paralelas continuam vazias; sono e vigília entrelaçados permeiam ficção e realidade modelando imagens e palavras: um corpo que é um livro ilustrado. Em cada página uma lâmina a fatiar a pele do corpo em cortes transversais como capítulos de uma história a ser lida, a ser construída. E cada uma delas sai da noite com os pés pela manhã ao encontro da realidade.


2 comentários:

  1. Muy hermoso. Me ha fascinado de principio a fin.

    Dejo que me atrape esas dos dualidades entre el sueño y la realidad, en esa duermevela de la vida en la que los deseos, los sueños y lo que vivimos se mezclan desdibujando fronteras y acrecentando el desasosiego de querer vivir, no sólo sobrevivir.

    Un beso,

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