DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

26/01/2016

A Paulicéia de Mário de Andrade



 
O cortejo
 
Monotonias das minhas retinas...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
Todos os sempres das minhas visões. "Bom giorno, caro."
 
Horríveis as cidades!
Vaidades e mais vaidades...
Nada de asas! Nada de poesia! Nada de alegria!
Oh! Os tumultuários das ausências!
Paulicéia - a grande boca de mil dentes;
e os jorros dentre a língua trissulcade
pus e de mais de distinção...
Giram homens fracos, baixos, magros...
Serpentinas de entes frementes a se desenrolar...
 
Estes homens de São Paulo,
Todos iguais e desiguais,
Quando vivem dentro dos meus olhos tão ricos,
Parecem-me uns macacos, uns macacos.
 
 
Colloque Sentimental
 
 
Tenho os pés chagados nos espinhos das calçadas...
Higienópolis!...As Babilônias dos meus desejos baixos...
Casas nobres de estilo...Enriqueceres em tragédias...
Mas a noite é toda um véu-de-noiva ao luar!
 
A preamar dos brilhos das mansões...
O jazz-band da cor...O arco-íris dos perfumes...
O clamor dos cofres abarrotados de vidas...
Ombros nus, ombros nus, lábios pesados de adultério...
E o rouge - cogumelo das podridões...
Exércitos de casacas eruditamente bem talhadas...
 
 
Mário de Andrade, em Paulicéia Desvairada (1922)

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