DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

10/10/2016

Às escuras






Amanhece. Nada é igual, tudo difere. Nada mudou, mas o galo que anunciava a aurora desapareceu. E os quintais. Já as galinhas aumentaram exponencialmente. Nem por isso têm vez ou voz: geradas em chocadeiras industriais, são alimentadas compulsivamente vinte e quatro horas por dia, ininterruptamente. O galo de hoje é invisível, não canta mas continua dando ordens no grande terreiro nacional.
Escurece. Tudo é vazio e branco. Na linha do horizonte a palavra sumiu entre as paralelas linhas do caderno. O poema enamorou-se do silêncio, emaranhou-se
na madrugada fria e sonolenta. Teve um sono profundo. Desapareceu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário