DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

25/11/2016

Bodarrada, poema de Luís Gama



Eu bem sei que sou qual Grilo
De maçante e mau estilo;
E que os homens poderosos
desta arenga receosos,
hão de chamar-me tarelo,
bode, negro, Mongibe.

Porém eu, que não me abalo,
vou tangendo o meu badalo
com repique impertinente,
pondo a trote muita gente.
Se negro sou, se sou bode,
pouco importa. O que isto pode?

Bodes há de toda a casta,
pois que a espécie é muito vasta...
Há cinzentos, há rajados,
 baios, pampas e malhados,
bodes negros, bodes brancos,
e sejamos todos francos,
uns plebeus e outros nobres,

bodes ricos, bodes pobres,
bodes sábios, importantes,
e também alguns tratantes...
Aqui, nesta boa terra,
marram todos, tudo berra.



Luís Gama - advogado, jornalista, poeta e escritor, nasceu em Salvador (BA) em1830 e faleceu em São Paulo, em 1882 aos 52 anos de idade; era filho de
mãe negra (Luísa Mahin) e de pai branco, que o vendeu quando tinha dez anos de idade. Autodidata, tornou-se famoso por defender a causa dos escravos sem nada cobrar. Um dos raros intelectuais negros no Brasil escravocrata do século
XIX.

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