DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)
26/06/2024
25/06/2024
Há tempos não escrevo nada. Não mais sonhos apenas
vigílias; não mais cantos: da mesa, da sala, nem do
quarto, e o da voz arribou com os pássaros que se
foram em debandada para além da Taprobana, fugindo
das pessoas. - Fazer o quê? - Ora, vá ser o que lhe der
na telha! - Não há mais telhas, foram-se com a
enxurrada. Agora só zinco quente, um fogaréu
devastando árvores, pássaros, répteis esturricados e
toda a biodiversidade que existia. As estrelas também
se foram. Será que ainda existem pirilampos? Ou
vagalumes?
- Quando o bicho homem se for todos eles voltarão!
05/06/2024
"Papel , amigo papel, não recolhas tudo o que escrever esta pena vadia.
Querendo servir-me, acabarás desservindo-me, porque se acontecer que
eu me vá desta vida, sem tempo de te reduzir a cinzas, os que me lerem
depois da missa de sétimo dia, ou antes, ou ainda antes do enterro, po -
dem cuidar que te confio cuidados de amor.
Não, papel. Quando sentires que insisto nessa nota, esquiva-te da minha
mesa, e foge. A janela aberta te mostrará um pouco de telhado, entre a
rua e o céu, e ali ou acolá acharás descanso. Comigo, o mais que podes
achar é esquecimento, que é muito, mas não é tudo; primeiro que ele
chegue. virá a troça dos malévolos ou simplesmente vadios."
Machado de Assis em Memorial de Aires.