Saturno devorando seus filhos, de Vic Muniz![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC3FLGdTl88l52NvtcE-iHxi6SPI0xt2lv0QOlZV2tftSqZtRC8VNWvwW3lVoZMXE6M9eq1jCg3sOBHh2v76-JNu88zjh_Y_jzzRyEC9CS-9ByPUaKD3_a0yhaJ7twR1NCoBPyTQanNEw/s400/Saturno+devorando+seu+filho%252C+de+Vik+Muniz.jpg)
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Um poema nasce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem plavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo.
Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
às raízes minúsculas do sol.
Fora os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
Embaixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder (Luís Bernardes de Oliveira) - Funchal, Ilha da Madeira (1930- )
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