DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

27/04/2020

A mesma praça




A praça está vazia de pessoas. Debaixo dos bancos há ninhos de pombos misturados com carcaças de ratos e de pardais. O coreto, que outrora era usado para apresentações de uma banda que ali tocava em dias de festas, hoje está ocupado por uma matilha de cães que brigam entre si pelo o que resta dos ossos do poder. A maior parte da população da cidade assiste assustada, pelas frestas de suas janelas, a esse grotesco espetáculo. Uma pandemia de vírus se abateu sobre o lugar. Não se sabe qual deles é o mais devastador: um deles é invisível, é letal, mas se observadas, rigorosamente, medidas preventivas, muitas mortes poderão ser evitadas. Houve uma aparente mudança no comportamento das pessoas: aquelas que hoje ocupam o coreto, usavam máscaras  antes da pandemia, enquanto a população expunha sua cara de desvalida, de abandonada. As máscaras dos cachorros foram ao chão. Hoje a população recorre ao uso de máscaras para proteger-se de tantos vírus! E os ossos, ah!, os ossos? Quem é que sabe o que poderá acontecer após essa cachorrada?

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