Pela minha vida, sem amargura,
sem suspiro, vai uma dor sombria.
Dos meus sonhos, a florescência pura
é a bênção de meu mais tranquilo dia.
às vezes cruza a trilha que acompanho
a grande questão. Sigo assim, frio,
pequeno, como à margem de um rio
do qual não ouso medir o tamanho.
Então me vem um lamento, um torpor
cinza, como nas noites de verão,
céus em que raro uma estrela se acende.
Minhas mãos tateiam por amor,
porque gostaria de fazer uma oração,
mas ela escapa à minha boca quente...
"Soneto" - Franz Xaver Kappus, poeta contemporâneo de Rainer Maria Rilke (1875-1926)
DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)
Arder na água, afogar-se no fogo.
O mais importante é saber atravessar o fogo.
28/10/2008
13/10/2008
Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.
Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim...e não me via!
Andava a procurar-me - pobre louca!
- E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma !
"Eu" - Florbela D'Alma da Conceição Espanca, poeta portuguesa(1894-1930)
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.
Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim...e não me via!
Andava a procurar-me - pobre louca!
- E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma !
"Eu" - Florbela D'Alma da Conceição Espanca, poeta portuguesa(1894-1930)
12/10/2008
E agora, o que vou fazer de todo esse tempo,
o que será de minha vida, de todas essas pessoas,
que me são indiferentes...?
Agora que te foste, todas estas noites...
Por quê... para quem?
E esta manhã que volta para nada?
Este coração que bate...bate tão forte...!
E agora, o que vou fazer com esse vazio que acompanhará minha vida?
Me deixaste o mundo inteiro,
mas o mundo sem ti é tão pequeno!
Vocês, meus amigos, sabem muito bem
que não se pode fazer nada...
Até Paris enche-se de tédio, todas essas ruas me aborrecem!
E agora, o que vou fazer?
Vou rir para não chorar...
Incendiarei todas as noites...
Pela manhã te odiarei!
"E Agora ?" - tradução livre de cirandeira
o que será de minha vida, de todas essas pessoas,
que me são indiferentes...?
Agora que te foste, todas estas noites...
Por quê... para quem?
E esta manhã que volta para nada?
Este coração que bate...bate tão forte...!
E agora, o que vou fazer com esse vazio que acompanhará minha vida?
Me deixaste o mundo inteiro,
mas o mundo sem ti é tão pequeno!
Vocês, meus amigos, sabem muito bem
que não se pode fazer nada...
Até Paris enche-se de tédio, todas essas ruas me aborrecem!
E agora, o que vou fazer?
Vou rir para não chorar...
Incendiarei todas as noites...
Pela manhã te odiarei!
"E Agora ?" - tradução livre de cirandeira
10/10/2008
Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente... E então?
Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais - côncavos, convexos, parabólicos - além da possibilidade de outros, não descobertos, apenas, ainda?
[...........................] Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.
"O Espelho" em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa
Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais - côncavos, convexos, parabólicos - além da possibilidade de outros, não descobertos, apenas, ainda?
[...........................] Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.
"O Espelho" em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa
04/10/2008
Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas xingaram de tristes: as três raças tristes.
A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de "mostrar suas vergonhas". A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se enamoraram das moças "bem gentis" daquela, que tinham cabelos "mui pretos, compridos pelas espáduas".
E nasceram os primeiros mamalucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente.Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas, macumas.
E nasceram os segundos mamalucos.
E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil.O colosso começou a rolar.
Trecho de Brás, Bixiga e Barra Funda, de Antonio de Alcântara Machado (1901-1935)
A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de "mostrar suas vergonhas". A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se enamoraram das moças "bem gentis" daquela, que tinham cabelos "mui pretos, compridos pelas espáduas".
E nasceram os primeiros mamalucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente.Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas, macumas.
E nasceram os segundos mamalucos.
E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil.O colosso começou a rolar.
Trecho de Brás, Bixiga e Barra Funda, de Antonio de Alcântara Machado (1901-1935)
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