DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

31/08/2020

Vira-lata & "vira-latas"




Expressar o que se vê. Falar sobre o aqui e o agora, sem rodeios, como quem amola uma faca ou lava uma roupa suja, demanda coragem força e decisão. É verdade que o sol brilha lá fora, que ainda existem pássaros que cantam, mas que também existem aves
de rapina, papagaios que arremedam discursos, e pombos, centenas de milhares que espalham suas
fezes venenosas pelas ruas, praças e "palácios" do
mundo inteiro. E o que fazemos? Alimentamos esses
supostos símbolos da Paz!
O que digo aos meus botões não digo às margaridas,
muito menos aos "espadas de são jorge"; e aos coqueiros então? Nem pensar! Eles tudo propagam através dos ventos que batem em suas palmas distorcendo o som, misturando alhos com bugalhos.
Suspiro profundo! "Ovos em ponto de neve". O sol se
foi. Sua majestade, a Noite, chegou...
Assim como Baleia, a vira-lata de Vidas Secas, de Graciliano Ramos, resta ainda um desejo de dormir
e acordar feliz, "num mundo cheio de preás, gordos,
enormes", ao contrário de muitos brasileiros "vira-latas", que "sonham" com um país cheio de pesadelos.
Corre alta a severina noite...

22/08/2020

Dos segredos abismais do Homem e do mar




Vous êtes tous les deux ténébreux et discrets:
Homme, nul n'a sondé le fond de tes abîmes,
O mer, nul ne connaît tes richesses intimes,
Tant vous êtes jaloux de garder vos secrets!

Sois todos os dois tenebrosos e discretos:
Homem, ninguém sondou o fundo dos teus abismos,
Ó mar, ninguém conhece tuas riquezas íntimas,
Tão ciumentos que sois de guardar vossos segredos!

Charles Baudelaire, 1821-1867

18/08/2020

(Des)construindo sonhos

Heitor dos Prazeres


Sonhei ter sonhado um sonho que havia sido um pesadelo dentro de outro sonho do dia anterior. Mas o sonho não era sonho, era a amarga realidade que se transformava em algodão doce.
Considerei os sonhos, o algodão doce, a amargura real e acordei ao som de um sonho valsa!

12/08/2020

Pandemia & pandemônios




Cansada doída angustiada dilacerada, e lúcida; quanto mais morro masmorra, mais revivo em lucidez. O corpo tem acompanhado os movimentos
peristálticos e tectônicos da Terra, que treme e explode pelo mundo afora como resposta ao que alguns "sapiens" lhe fazem. 
Quantas madrugadas insones a aguardar a aurora
que teima em não aparecer? Nuvens de gafanhotos,
erupções vulcânicas, queima de florestas e desmatamentos, corrupções, epidemias generalizadas, e um silêncio pandemônico, a devastar o planeta!
Até quando as mentiras disfarçadas, simulacros de verdades serão usados contra bilhões de seres humanos?
Vanglórias, fogueiras de vaidades se alastram pelo espaço sideral numa corrida desenfreada pelo poder,
o pior de todos os vírus. Enquanto isso, aumenta o
cemitério de valas comuns onde são jogados centenas de milhares de corpos anônimos ao arrepio da lei e da dignidade humana!