DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

25/06/2021

Ramargens

 




Brotos que se desprendem das mãos escapam pelos dedos, desmembrando-se em galhos; formam ramos de palavras entrelaçadas de uma árvore quase esquecida. Páginas amarelecidas pela voragem do tempo, folhas secas entre palavras enredadas em longos talos a exibirem espinhos pontiagudos; reproduzem-se em direções opostas. Seu tronco largo e profundo possui raízes que se bifurcam pelo interior da terra; privadas da luz do sol, crescem desordenadamente, formando verdadeiros hieróglifos incompreensíveis, impenetráveis: uma teia de sombras, um tapete transparente, quase invisível. Imagens caleidoscópicas que ofuscam os olhos diante de tanta clareza.                                        A àrvore-Mãe, majestosa e soberana um dia, está isolada de seus filhos; desgarrados de suas origens, tornaram-se vulneráveis e vítimas de aventureiros gananciosos, predadores por excelência. Assim, também as mãos já não conseguem controlar o nascimento dos brotos de palavras: desordenadas e rebeldes diante de tantas ervas daninhas, transformaram-se em ramos, à margem...

17/06/2021

Atalho



Ao passar por uma transversal de palavras escolheu um atalho para alinhar alguns vocábulos de asas caídas. Estavam bastante machucados, cheios de hematomas, devido a uma discussão que tiveram com um grupo de expressões vulgares. Após alojá-los convenientemente num caderno, arrancou-lhes as penas ensanguentadas, envolveu-os com uma fina camada de vocativo carinho, para, em seguida, derramar sobre eles um balde de adjetivos demonstrativos, afim de protegê-los da vulgaridade de certos compêndios virtuais tão em voga nas redes "sociais". 

08/06/2021

Criaturas mínimas



Subiu o morro como quem não quer nada. Queria arrebentar a cara do Sol, que andava de caso com a Lua em plena luz do dia! Um meteoro caiu sobre a face da Terra estilhaçando as vidraças do planeta. Foram cacos por todos os lados; bocas foram fechadas, línguas arrancadas, corações despedaçados.                                                                                    Quando olhou lá do alto, percebeu a enorme pequenez da cidade, a miniaturização das criaturas. Uma densa névoa atravessou os  seus olhos, não viu mais nada...! 

03/06/2021

Da incompletude

 



Todos sabemos que a nossa época é profundamente

bárbara, embora se trate de uma barbárie ligada ao

máximo de civilização. 

Antonio Cândido em O direito à Literatura


Com a cara achatada nos polos e dilatada no equador, arredondo os dias para não cair no planisfério dos obtusos; os olhos tentam ampliar cada vez mais sua visão de mundo, perscrutando a diversidade de ângulos que a vida oferece a este planeta. Tenho pensado no como ocorrem as conexões sinápticas do cérebro com o ambiente que nos rodeia. Por que existem alguns seres que são totalmente destituídos de cérebro, incapazes de raciocinar, de refletir sobre qualquer coisa ou situação?      A diversidade planetária é infinita. Por exemplo, o parasita é um organismo(ou indivíduo), que se nutre do sangue ou da seiva de outro ser; é aquele que vive às custas dos outros; a ameba, é um protozoário unicelular, sem cérebro, e que, não tendo capacidade para produzir seu sustento, alimenta-se de seres vivos. Nas sociedades constituídas de seres humanos supostamente pensantes, podemos também encontrar criaturas completamente desprovidas de cérebros. Um bom exemplo disso, é o psicopata, indivíduo perverso, que sofre de distúrbios psíquicos que afetam sua forma de interagir socialmente. Seu comportamento é irregular e antissocial; em sua aparência física, apresenta as mesmas características dos outros, mas em suas atitudes atuam como os vírus, agentes infecciosos, acelulares; invisíveis a olho nu, são capazes de destruir toda a colônia de células saudáveis. Sob uma aparência "normal", o psicopata é capaz de conduzir toda uma sociedade à morte, ao caos social.