DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

24/07/2021

Fantasmagoria




Voou, voou, pluft! Não era um fantasminha, era uma fantasmagoria. Um bloco de concreto, e na mão uma pena molhada de sangue; e a cada movimento um corte, uma hemorragia de vidas ceifadas. Leviatã?              Uma sociedade mergulhada no medo da morte, um povo que abriu mão de sua liberdade em prol de uma falsa segurança.

18/07/2021

Vestida de Noite



Ana Hatherly



A palavra sempre vem vestida de Noite sem estrelas. Tem seu corpo envolto numa capa tosca na forma, que de tão fina se desmancha nos poros azuis do infinito. A mãe do verbo vem perdendo seus significados nos dicionários; as regras gramaticais caíram da árvore sobre o solo do abandono, diante da banalidade da vida: corpo, folhas e frutos apodrecem nos beirais das ruas entulhadas de carros, de lixo. Sob olhares indiferentes, passos apressados para o vazio.                            O saber transformou-se numa caixa preta?

12/07/2021

Troca-troca



Troquei as máquinas de lavar roupas e louças por um triturador de ervas daninhas. Não foi uma operação muito fácil de realizar, em decorrência das semelhanças entre os entes envolvidos: trigo-falso, discordantes, psicopatas, inseguros, repulsivos, odiosos, execráveis, falsos moralistas, ladrões, fundamentalistas, fanáticos religiosos, estavam todos juntos e misturados. Mesmo assim, resolvi correr o risco; estão agora em processo de centrifugação; vamos ver no que vai dar. Não me surpreenderei com o lixo e a lama que será expelida pelo cano da máquina. Quem sabe restará um rebotalho de esperança...(nem que seja!)

02/07/2021

Reflexões

 




Uma pétala uma pata uma porta: o ferro o ferreiro a ferramenta e a fechadura; o dia o sol a luz o pensamento e a razão; a noite a escuridão o sentimento e a reflexão. Um desencontro entre duas ou mais pessoas: solidão. A queda do muro que te protege apaga tua memória, impede que refaças o caminho de volta. Tijolos amontoados a céu aberto formam um bloco de concreto em teu peito. A casa caiu, o chão se abriu para a boca de uma onça, e muitos correm para ela acreditando ser o paraíso. A mão desobedece, a fenda difunde-se - sangramento das veias  na orla do mar; suas ondulações dançam em sobressaltos, uma pororoca de pensamentos, de ideias que ora se contrapõem, ora se unem. Teu olho burila tua consciência: visões que transbordam num piscar de olhos o nascimento de pequenas flores selvagens.                                          A casa caiu e já não sabes por onde recomeçar. 

Quem és tu?