DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/10/2010

Microcontos

Prometeu Acorrentado
Pus minha mão no fogo.
Me queimei.
Livrai-me dos abutres!
Menashe Kadishman

De Flávio Moreira da Costa



Crepuscular

Pegou o chapéu, embrulhou o sol,
então nunca mais amanheceu.



Antonio Bandeira

De Menalton Braff



Teste de vista

Ler? Não, senhor.
São óculos para descanso.

Gerard Richter

De Moacyr Godoy Moreira




Monólogo com a sombra

Não adianta me seguir.
Estou tão perdido quanto você

Cildo Meireles

de Rogério Augusto
Extraído de "Os cem menores contos brasileiros do século" - Organização de Marcelino Freire - Coleção 5 Minutinhos - Ateliê Editorial

26/10/2010

Eu também não...








Eu não gosto de bom gosto
Eu não gosto de bom senso
Eu não gosto de bons modos
Não gosto

Eu aguento até rigores
Eu não tenho pena dos traídos
Eu hospedo infratores e banidos
Eu respeito conveniências

Eu não ligo pra conchavos
Eu não suporto aparências
Eu não gosto de maus tratos


Mas o que eu não gosto
é do bom gosto!

Eu aguento até os modernos
e seus segundos cadernos...
Eu aguento até os caretas
e suas verdades perfeitas...!?


O que eu não gosto
é do bom gosto!


Eu aguento até os estetas
Eu não julgo a competência
Eu não ligo para etiqueta
Eu aplaudo rebeldes


Eu respeito tiranias
e compreendo piedades
Eu não condeno mentiras
Eu não condeno vaidades


O que eu não gosto
é do bom gosto!

Eu gosto dos que têm fome,
dos que morrem de vontade,
dos que secam de desejo...
Dos que ardem...!



Senhas, de Adriana Calcanhoto
Tela de Antonio Bandeira - Nordeste, 1942

25/10/2010

Poema para Galileu



Estou olhando o teu retrato, meu velho pisano,
aquele teu retrato que toda a gente conhece,
em que a tua cabeça desabrocha e floresce
sobre um modesto cabeção de pano.
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da tua velha Florença.
(Não, não Galileu! Eu não disse Santo Ofício. Disse Galeria dos Ofícios.)
Aquele retrato da Galeria dos Ofícios da requintada Florença.





Lembras-te? A Ponte Vecchio, a Loggia, a Piazza della Signoria.
Eu sei...Eu sei...
As margens doces do Arno às horas pardas da melancolia.
Ai que saudade, Galileo, Galilei!
Olha, sabes? Lá em Florença
está guardado um dedo de tua mão direita num relicário.


Palavra de honra que está!
As voltas que o mundo dá!
Se calhar até há gente que pensa que entraste no calendário.
Eu queria agradecer-te, Galileu,
a inteligência, as coisas que me deste.
Eu, e quantos milhões de homens como eu
a quem tu esclareceste,
ía jurar - que disparate, Galileu!
- e jurava a pés juntos e apostava a cabeça
sem a menor hesitação -
que os corpos caem tanto mais depressa
quanto mais pesados são.



Pois não é evidente, Galileu?
Quem acredita que um penedo caia
com a mesma rapidez que um botão de camisa
ou um seixo da praia?
Era a inteligência que Deus nos deu.
Estava agora a lembrar-me, Galileo,
daquela cena em que tu estavas sentado num escabelo
e tinhas à tua frente
um friso de homens doutos, hirtos, de toga e capelo
a olharem-te severamente.
Estavam todos a ralhar contigo,
que parecia impossível que um homem da tua idade
e da tua condição,
se estivesse tornando um perigo
para a Humanidade
e para a Civilização.


*******


Ai, Galileo!
Mal sabiam os teus doutos juízes, grandes senhores
deste pequeno mundo,
que assim mesmo, empertigados nos seus cadeirões de braços,
andavam a correr e a ralar pelos espaços
à razão de trinta quilômetros por segundo.
Tu é que sabias, Galileo, Galilei.
Por isso eram teus olhos misericordiosos,
por isso era teu coração cheio de piedade,
piedade pelos homens que não precisam
de sofrer, homens ditosos
a quem Deus dispensou de buscar a verdade.
Por isso estoicamente, mansamente,
resististe a todas as torturas,
a todas as angústias, a todos os contratempos,
enquanto eles, do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo,
caindo,
caindo,
caindo,
caindo sempre,
e sempre,
ininterruptamente,
na razão directa dos quadrados dos tempos.

Antonio Gedeão, pseudônimo de Rômulo Vasco da Gama de Carvalho, historiador, professor e poeta, nascido em Lisboa (1906-1997)

22/10/2010




VI


porque me doem
os teus olhos?
porque me doem
assim tanto
como se fossem
dongos
flutuando
águas de melancolia
na prata líquida
de um kwanza
estagnado
sem saber a foz
numa louca expressão
quase de morte
e alienação?
porque me dói
assim tanto
a voz dos teus olhos?...


Namibiano Ferreira, poeta angolano, autor do blog http://poesiaangolana.blogspot.com/
Foto: Arnaldo Carvalho

20/10/2010

Reconstrução


















Ouvir pacientemente
a voz da Terra.
Esta voz que ilude o lábio e escapa,
entre dentes,
sincopada,
da garganta cerrada,
do silêncio.


Ouvir a palavra dura,
a dor cuspida
coração afora,
a Esperança sepultada
coração adentro.


Não calar essa voz,
essas mãos,
porque então a Terra
falará pela boca dos vulcões.


E não basta ouvir,
é preciso que a mão
golpeie o leme
e corrija o rumo
mar adentro,
terra adentro,
classe adentro
raça adentro.


Pedro Tierra, pseudônimo de Hamilton Pereira da Silva, poeta, nascido em Porto Nacional(TO) em 1948. É autor de Poemas do Povo da Noite(menção honrosa no Prêmio Casa de las Américas, 1977), Missa da Terra sem-males(em parceria com Pedro Casaldáliga e Milton Nascimento), Água de rebelião, Inventar o Fogo. Foi secretário de cultura do Distrito Federal e é presidente da Fundação Perseu Abramo.

19/10/2010

O amor comeu...


Oswaldo Goeldi



O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevia meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas.
O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida dos meus ternos; o número dos meus sapatos, o tamanho dos meus chapéus.
O amor comeu minha altura, meu peso, a cor dos meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poema. Comeu em meus livros de prosa todas as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios, meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto, mas que parecia uma usina.

Paul Cézanne
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever o meu nome.

Van Gogh O amor roeu minha infância de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.



O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues frescos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.



Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos adiantados de meu relógio, os anos que as linhas da minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

João Cabral de Melo Neto - Poesia Completa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 1994

18/10/2010

Os envergonhados e os desavergonhados










Rompo meu silêncio de três anos na Carta Maior por causa da minha mulher. Ela perguntou: você não vai fazer nada? Não vai participar da campanha? Eu não sou mais jornalista, respondí, sou ficcionista; não quero mais saber de política, chega, cinquenta anos sendo usado, agora chega. Ela acabara de ler a história do bispo que mandou imprimir dois milhões de folhetos contra a Dilma. Eu lembrei ter dito a ela que a Igreja Católica estava traindo, já naquele dia em que soltaram o manifesto acusando Lula de facista, com a assinatura de Dom Paulo. O pobre homem em estado avançado de Alzheimer, e arrancaram dele essa assinatura.

A Igreja não está traindo, está fazendo o que sempre fez, ela respondeu. Nós acabávamos de voltar de uma viagem à Cartagena, na Colômbia, onde visitamos o museu da Inquisição. Os instrumentos de tortura alí exibidos, de fazer o DOI-CODI sentir vergonha, ficaram gravados fundo na nossa imaginação.

Está traindo sim, está traindo em primeiro lugar porque usou um método traiçoeiro, o método das mentiras, da difamação, em segundo lugar porque está usando o dinheiro que arranca dos pobres para combater o governo dos pobres, e em terceiro lugar porque está usando uma eleição universal, republicana, para emplacar um dogma religioso, dogma dos mais nefastos, que só prejudica as mulheres pobres.

Um papa decidiu lá em Roma que o aborto é a linha divisória entre uma sociedade moderna, laica, regida pelo saber científico, e a sociedade atrasada, na qual os padres mandam na vida das pessoas e a Igreja por isso mantém seu poder. E veio a ordem, lancem a campanha contra o aborto bem no meio da campanha eleitoral. Eles são profissionais. Fazem isso há dois mil anos, desavergonhados. Os evangélicos, amadores, entraram de carona.

Agora vou falar dos envergonhados, esses que passaram oito anos disseminando mentiras sobre a transposição do São Francisco, acusando Lula de só beneficiar o agronegócio, demonizando as novas hidrelétricas, tumultuando audiências públicas em nome de índios e caboclos desprovidos de luz elétrica, obstruindo a construção de pontes e estradas que integrariam o continente, combatendo os transgênicos em nome de uma visão pré-darwiniana da natureza, esses que se condoem com gatinhos e pererecas, mas não com os meninos de rua ou os moradores de palafitas. Esses, que agora estão lançando manifesto dizendo envergonhadamente para votar contra Serra. Por que não dizem bem alto votem na Dilma?

E também essas todas, amigas minhas, da Vila Madalena, de Pinheiros, da USP, mulheres esclarecidas, emancipadas, que votaram na Marina apesar de evangélica e anti-aborto, e agora descobriram que todo o seu estado maior é formado por tucanos. Ou ainda não descobriram? A vocês todas eu digo: não se trata de derrotar o Serra ou o neoliberalismo. Tudo isso é transitório, efêmero. Trata-se de derrotar a grande conspiração obscurantista. Trata-se da luta milenar da razão contra a superstição, da tolerância contra o fanatismo, da modernidade contra o atraso.



Bernardo Kucinski, é jornalista, autor, entre outros, de "A síndrome da antena parabólica:ética no jornalismo brasileiro".

17/10/2010

Das intolerâncias hipócritas...

"Todas as religiões dogmáticas são falaciosas e nunca devem ser aceitas como palavra final por pessoas que respeitem a si mesmas". - Hypatia

Hypatia nasceu e viveu em Alexandria (370-415) numa época de grande efervescência cultural, científica e grandes conturbações religiosas. O cristianismo estava em ascensão, os
judeus eram perseguidos e a intolerância imperava. Além de matemática e astrônoma, era uma filósofa neoplatônica que expunha suas ideias em praça pública,
granjeando admiração e respeito, tanto de filósofos e matemáticos como também do
povo, devido o seu dom da oratória. Avessa a dogmas religiosos, despertou a ira e a intolerãncia do patriarca Cirilo e seus fanáticos seguidores, que insuflados por ele, arrancaram-na de sua carruagem, rasgaram toda a sua roupa e a esquartejaram com cascas de ostras, sem que ninguém os impedisse. O crime nunca foi punido e o patriarca, posteriormente foi canonizado!

15/10/2010

"Tudo me interessa e nada me prende"....

Hans Varella
O coração, se pudesse pensar, pararia.

*****

Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do abismo. Não sei onde me levará, porque não sei de nada. Poderia considerar esta estalagem uma prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis, porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cômodas até mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.

*****

Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se não o lerem, nem se entretiverem, será bem também.


*****

Tudo me ineteressa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos, mas ao ouví-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhí da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repetí, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordadava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados.



Do Livro do Desasossego - Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa.

11/10/2010

.................??????????



Toda lama escorre pelo chão...
Vira mancha, vira poluição,
picha todos, cria um mundo cão!
Passa tudo na televisão,
entra pelos poros da nação!
Todo ciclo acaba e esse não!
Esse não?


Ama que é bom pois,
toda lama só acumula no vão.
Onde tem vazio, vem a lama,
fica alí...
Ama que a lama que acumula
volta para o chão.

Não vivo em paz
tão longe assim,
chega bem mais, vem,
até grudar em mim.

Não vivo em paz
tão longe assim,
se você vai, é um vão que você faz
e se o vão abrir mais,
é melhor o fim...


Toda falha faz com que não vença.
Toda fenda tem a forma tensa.
Toda fresta vai ficando imensa.
Toda brecha espera quem preencha...


Junta que é bom, pois todo amor
é vulnerável no vão.
Onde tem a brecha,
vem a flecha e fere alí...
Junta, junta, não se manda não!
Junta, junta para evitar o vão.
Junta, junta bem juntinho
junto do meu coração!
Obs: Não sei de quem é a autoria dessa letra. Já a ouví na voz da cantora Na Ozetti, em São Paulo(SP). Pesquisei na internet, mas não obtive resultados satisfatórios. Se alguém souber, por favor, me informe.

07/10/2010

Não falar, falando...!?

foto: trekearth
Sempre evitei falar de mim,

falar-me. Quis falar de coisas.

Mas na seleção dessas coisas

não haverá um falar de mim?

Como saber, se há tanta coisa

de que falar ou não falar?

E se ao evitar, o não falar,

é forma de falar da coisa.
***
O Poeta
No telefone do poeta
desceram vozes sem cabeça
desceu um susto, desceu o medo
da morte de neve.
O telefone com asas e o poeta
pensando que fosse o avião
que levaria de sua noite furiosa
aquelas máquinas em fuga.
Ora, na sala do poeta o relógio
marcava horas que ninguém vivera.
O telefone, nem mulher nem sobrado,
ao telefone o pássaro-trovão.
Nuvens porém brancas de pássaros
acenderam a noite do poeta
e nos olhos, vistos de fora, do poeta
vão nascer duas flores secas.



João Cabral de Melo Neto, Recife (PE) - 1920-1999

05/10/2010

Cuidado...



A porta cerrada

não abras.

Pode ser que encontres

o que não buscavas.

Na escuridão

pode ser que esbarres

no casal em pé

tentando se amar

apressadamente.

Pode ser que a vela

que trazes na mão

te revele trêmula,

tua escrava nova,

teu dono-marido.

Descuidosa, a porta

apenas cerrada

pode te contar

conto que não queres

saber.



Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo

03/10/2010

(In) Memória

René Magritte


De cacos, de buracos,
De hiatos e de vácuos
De elipses, psius
Faz-se, desfaz-se, faz-se
Uma incorpórea face
Resumo do existido.


Apura-se o retrato
Na mesma transparência:
Eliminando cara
Situação e trânsito
Subitamente vara
O bloqueio da terra.


E chega àquele ponto
Onde é tudo moído
No almofariz do ouro:
Uma Europa, um museu,
O projetado amar,
O concluso silêncio.



Carlos Drummond de Andrade, in Boitempo

02/10/2010

Mal-me-quer..., bem-me-quer...!!!



Mal-me-quer a solidão

Bem-me-quer a tempestade

Mal-me-quer a ilusão

Bem-me-quer a liberdade


Mal-me-quer a voz vazia

Mem-me-quer o corpo quente

Mal-me-quer a alma fria

Bem-me-quer o sol nascente


Mal-me-quer a casa escura

Bem-me-quer o céu aberto

Bem-me-quer o mar incerto

Mal-me-quer a solidão


Entre o fogo e a madrugada

Mal-me-quer ou bem-me-quer

Muito, pouco,

Tudo ou nada!



Aldina Duarte, Lisboa (Portugal)