DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

24/09/2023

Dos secretários que os príncipes têm junto de si *

 




Não é de pouca importância para um príncipe a escolha dos ministros, os quais são bons ou não, segundo a prudência do governante. E a primeira conjectura a se fazer da inteligência de um senhor resulta da observação dos homens que o cercam; quando são capazes e fiéis, sempre se pode reputá-lo sábio, porque soube reconhecê-los competentes e conservá-los. Mas quando não são assim, sempre se faz mau juízo do príncipe, porque o primeiro erro dele reside nessa escolha. [...] E porque são de três espécies as inteligências - uma que entende as coisas por si; outra que discerne o que os outros entendem; e a terceira que não entende nem por si, nem por intermédio dos outros, sendo a primeira excelente, a segunda muito boa e a terceira inútil, - estavam todos acordes que, se o príncipe não se classificava no primeiro grau, estava, necessariamente, no segundo. Porque, toda vez que alguém tem a capacidade de conhecer o bem e o na fala ou no ato de uma pessoa, mesmo que por si não consiga solucionar os problemas, discerne as más e as boas obras do ministro, exalta estas e corrige aquelas; e o ministro não pode enganá-lo, e então se conserva bom.

Mas, para que um príncipe conheça o ministro, existe um método infalível. Quando vires o ministro pensar mais em si do que em ti, e que em todas as ações procura o interesse próprio, podes concluir que jamais será um bom ministro, e nele nunca poderás confiar; aquele que tem o Estado de outrem em suas mãos não deve pensar nunca em si, mas sempre no príncipe, e não recordar nunca algo que não seja da sua competência. Por outro lado, o príncipe, para conservá-lo bom ministro, pense nele, honre-o, faça-o rico, vinculando-o a sua pessoa, fazendo-o participar das honrarias e cargos, a fim de que veja não poder ficar sem a proteção principesca; mas que as muitas honras não o façam desejar mais honras, as muitas riquezas não façam desejar maiores riquezas, e os muitos cargos o façam temer as mudanças. Pois, quando os ministros e o príncipe relacionam-se assim preparados, podem confiar um no outro; do contrário, o fim será sempre danoso, para um para o outro.


Extraído de O Príncipe, de Nicolau Maquiavel, Florença(Itália) - 1469-1527 - Diplomata, poeta, historiador e músico. 

03/09/2023

"Mensagem"

 

Os deuses vendem quando dão.

Compra-se a glória com desgraça.

Ai dos felizes, porque são

só o que passa!


Baste a quem baste o que lhe basta

O bastante de lhe bastar!

A vida é breve, a alma é vasta.

Ter é tardar.


Foi com desgraça e com vileza

que Deus ao Cristo definiu:

assim o opôs à Natureza

e o Filho o ungiu.



Fernando Pessoa