É crua a vida, alça de tripa e metal.
Nela despenco: pedra mórula ferida.
É crua e dura a vida
Como um naco de víbora,
Como-a no livor da língua
Tinta, lavo-te os antebraços, Vida,
Lavo-me no estreito-pouco do meu corpo,
Lavo as vigas dos ossos, minha vida
Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.
E perambulamos de coturno pela rua
Rubras, góticas, altas de corpo e copos.
A vida é crua.
Como o bico dos corvos,
E podia ser tão generosa e, mítica: arroio, lágrima
Olho d'água, bebida.
A vida é líquida
Hilda Hilst - Jaú(SP) 1930-2004