DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

23/06/2019

De Padre Antonio Vieira*

Capela dos ossos, Évora(Portugal)


O que vemos ser praticado em todos os reinos do mundo é: em vez de os reis levarem consigo os ladrões ao paraíso, são os ladrões que levam consigo
os reis ao inferno...

Tempos houve que de demônios falavam e o mundo os ouvia, mas depois que ouviu aos políticos ainda é pior o mundo; o papagaio fala, o rouxinol canta, mas só os agrada e recria, e até as grandes aves de rapina reconhecem a mão de quem recebem o alimento.

No Brasil, conjugam por todos os modos o verbo roubar.
                  em "Sermões"

* Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa em 1608 e faleceu em 1697.

14/06/2019

"Aos mestres, com desrespeito"

Cabaceiras-PB



Dizem que meu povo
é alegre e pacífico.
Eu digo que meu povo
é uma grande força insultada.
Dizem que meu povo
aprendeu com as argilas
e os bons senhores de engenho
a conhecer seu lugar.
Eu digo que meu povo
deve ser respeitado
como qualquer ânsia desconhecida
da natureza.
Dizem que meu povo
não sabe escovar-se
nem escolher seu destino.
Eu digo que meu povo
é uma pedra inflamada
rolando e crescendo
do interior para o mar.

***

Poema nenhum, nunca mais,
será um acontecimento: escrevemos
cada vez mais, para um mundo
cada vez menos.

Alberto da Cunha Lima, Jaboatão dos Guararapes (PE) - 1942-2007. Escritor, jornalista e sociólogo.

10/06/2019

As Belas Artes *

Camille Claudel


Formosíssimas senhoras,
Amadas filhas dos Céus,
Sois quatro auroras raiando,
Ou quatro risos de Deus.

Às vezes penso - a Pintura
É de todas a mais bela,
Pois que fala, sem ter vozes,
Segredos por sobre a tela!

Outras vezes digo - a Música
Tem sua primazia,
Quando revela os encantos
 Da doce melancolia!

E da Escultura, que digo?
Ao bronze anima e dá vida,
Transformando o ferro bruto
Em viva estátua querida!

Como a Poesia embeleza
As suas irmãs amadas!
Pintura, Escultura e Música
Andam com ela abraçadas!

Nenhuma excede em beleza
As outras irmãs formosas,
Se esta canta, aquela fala,
Esta outra desenha as rosas!

Mas quem quiser separá-las
Mate primeiro a Poesia,
Que as outras irmãs coitadas,
Morrerão no mesmo dia!

* Maria Clara Vilhena da Cunha Santos - nasceu em Pelotas(RS), 1866-1911 - Escritoras Brasileiras do Século XIX - Vol. II