Arcos da Lapa, Rio de Janeiro, 1911
[...] Há quantos anos vidas mais valiosas que a dele se vinham oferecendo, sacrificando e as coisas ficaram na mesma, a terra na mesma miséria, na mesma opressão, na mesma tristeza.
E ele se lembrava que há bem cem anos, ali, naquele
mesmo lugar onde estava, talvez naquela mesma prisão, homens generosos e ilustres estiveram presos
por quererem melhorar o estado de coisas de seu tempo.
[...] Não havia mais piedade, não havia mais simpatia, nem respeito pela vida humana; o que era necessário era dar o exemplo de um massacre à turca, porém clandestino, para que jamais o poder constituído fosse atacado ou mesmo discutido. Era a filosofia social da época, com forças de religião, com os seus fanáticos, com os seus sacerdotes e pregadores, e ela agia com a maldade de uma crença
forte, sobre a qual fizéssemos repousar a felicidade de muitos.
Trechos do livro Triste fim de Policarpo Quaresma, de
Afonso Henriques de Lima Barreto(1881-1922), escrito quando tinha apenas 30 anos de idade, é considerada a sua obra prima. Nela podemos observar uma atualidade surpreendente, e a denúncia dos males da sociedade brasileira da época,
males estes que vêm se arrastando através dos tempos: a burocracia, a bajulação, a injustiça social, os problemas da terra, dando-lhe um caráter quase profético!
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