Sempre essa sensação de inquietude
de esperar mais.
Hoje são as borboletas,
amanhã é a tristeza inexplicável,
o tédio ou a atividade desenfreada
de arrumar esse ou aquele quarto,
de costurar, de ir ali ou acolá
cumprir ordens enquanto o tempo
tapar o universo com um dedo.
Fazer minha felicidade com ingredientes
de receita de cozinha,
lambendo os dedos às vezes,
e às vezes sentindo que nunca
poderei me satisfazer;
que sou um barril sem fundo
sabendo que não me conformarei
nunca! Mas buscando absurdamente
me conformar, enquanto meu corpo
e minha mente se abrem, se estendem
com poros infinitos onde se aninha
uma mulher que gostaria de ser
pássaro, mar, estrela, ventre profundo
dando à luz novos universos reluzentes.
E ando estourando pipocas de milho
em meu cérebro, brancos tufinhos
de algodão, rajadas de poemas
que me assaltam o dia inteiro e
me fazem querer inflar como um balão
para ocupar o mundo, a natureza,
para encharcar-me em tudo e estar
em todos os lugares, vivendo uma
em mil vidas diferentes.
No entanto, hei de lembrar que estou aqui
e que continuarei ansiando,
agarrando pitadinhas de claridade,
fazendo eu mesma meu vestido
de sol, de lua, meu vestido verde
da cor do tempo, com o qual
uma vez sonhei viver em Vênus.
Gioconda Belli, Manágua(Nicarágua)- 1948
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