DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

07/08/2023

"Conversas por escrito" *

 


Agora a nossa realidade se desmorona. Despencam-se deuses, valores, paredes...Estamos entre ruínas. A nós, poetas destes tempos, cabe falar dos morcegos que voam por dentro dessas ruínas.. Dos restos humanos fazendo discursos sozinhos nas ruas. A nós, cabe falar do lixo sobrado e dos rios podres que correm por dentro de nós e das casas. Aos poetas do futuro caberá a reconstrução - se houver reconstrução. Porém, a nós,  a nós sem dúvida - resta falar dos fragmentos, do homem fragmentado que, perdendo suas crenças, perdeu sua unidade interior. É dever dos poetas de hoje falar de tudo que sobrou das ruínas - e está cego. Cego e torto e nutrido de cinzas. (...) E se alguma alteração tem sofrido a minha poesia, é a de tornar-se em cada livro, mais fragmentária. Mais obtida por escombros. Sendo assim, cada vez mais, o aproveitamdento de materiais e passarinhos de uma demolição.



* Trecho de uma entrevista que Manoel de Barros (Corumbá-MS, 1916-2014) concedeu à revista Grifo - 1970-1980.

01/08/2023

Aporias

 


Lembrança e esquecimento; amor e ódio; vida e morte.

Uma cabeça cheia de vazios, de pontos interrompidos, de sonhos 

revelados, lembranças esfumaçadas, pesadelos que se tornam reais. 

Pancadarias, violência, espancamentos até a morte, perversidade, 

racismo, xenofobia. Pandora escancara a porta da sua caixa. É o

salve-se quem puder. Até quando?

Carrega-se um fardo ancestral que supõe-se amá-lo.

Quedas e tombos superam o levantar-se. Tanto mar, tanto amor, e

quantas ilhas de ódio a dividir continentes humanos!