Beatriz Milhazes
O poema é um animal;
nenhum poema se destina ao leitor;
ou, como um quadro, assume o poder dos feitiços, objectos mágicos ou
instrumentos de esconjurar os espíritos, ou a emoção, ou o
inconsciente,
guardando o homem de uma oculta dependência de tudo;
porque se vive dos lucros da superstição;
e é forçoso existir a natureza, outorgada às nossas violações;
ou que as regras de organização do poema são as mesmas da natureza,
mas os elementos com que o poema se organiza não estão na natureza;
e o poema não transcreve o mundo, mas é rival do mundo.
São casas de Aristóteles, Benjamin, Picasso, Huidobro, Malraux.
Casas para onde se entra e de onde se sai, por portas travessas ou
janelas, por telhados e escadas derradeiras, pela frente, abrindo túneis
nas caves, escrevendo torto em linhas direitas, ateando fogos, pelas
traseiras.
Extraído de PHOTOMATON & VOX, de Herberto Helder, Funchal (Ilha da
Madeira), 1930-2015.
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