DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/04/2024

Memória, montagem *

 Beatriz Milhazes




O poema é um animal;

nenhum poema se destina ao leitor;

ou, como um quadro, assume o poder dos feitiços, objectos mágicos ou

 instrumentos de esconjurar os espíritos, ou a emoção, ou o 

inconsciente,

 guardando o homem de uma oculta dependência de tudo;

porque se vive dos lucros da superstição;

e é forçoso existir a natureza, outorgada às nossas violações;

ou que as regras de organização do poema são as mesmas da natureza, 

mas os elementos com que o poema se organiza não estão na natureza;

e o poema não transcreve o mundo, mas é rival do mundo.

São casas de Aristóteles, Benjamin, Picasso, Huidobro, Malraux.

Casas para onde se entra e de onde se sai, por portas travessas ou

 janelas, por telhados e escadas derradeiras, pela frente, abrindo túneis

 nas caves, escrevendo torto em linhas direitas, ateando fogos, pelas

 traseiras.


Extraído de PHOTOMATON & VOX, de Herberto Helder, Funchal (Ilha da

 Madeira), 1930-2015.

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