DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

15/08/2024

Os bens alheios *

 




    Nada é mais deplorável e digno de lástima - dizem os ladrões - do que o gesto de um homem surpreendido em flagrante delito contra a propriedade. Treme, balbucia, levanta pesadamente as mãos, agitando-as no como se estivessem vazias. Declara afinal, que não apanhou nada, que tudo é mentira, que se trata sem dúvida de um engano constrangedor.

   Na realidade, é muito difícil reconhecer os próprios erros, e ninguém entrega com prazer o que lhe pertence. Os ladrões, sempre inclinados à fraqueza, sentem um aperto no coração e acabam por levar alguma coisa contra a vontade do dono. Correm graves riscos os que tentam roubar sem o auxílio de um revólver, pois os proprietários os insultam e terminam por tomar a ofensiva. Frequentemente, os jornais nos informam sobre algum imprudente que foi ferido, impunemente, enquanto fugia com as mãos vazias. Entretanto, dizem os ladrões, de vez em quando conseguem encontrar algumas almas arrependidas que devolvem tudo o que têm em demasia, e que acolhem a visita noturna solenemente, como um fato providencial. 


* Juan Jose Arreola, Jalisco (México) - 1918-2001

em Confabulário Total [1941-1961]

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