DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

30/08/2025

A palavra e o mar





Às vezes fico dias e dias diante de uma página em branco como se estivesse diante do mar; não consigo pensar em nada, ouço apenas a canção silenciosa  das águas ou o barulho da sua turbulência. As palavras, quando querem vêm aos borbotões quase saindo pela boca, como se fossem pular das mãos adiantando-se aos traços do lápis ou aos toques do teclado, aceleram
os batimentos cardíacos, fazem um baticum danado até virem à tona pruma página. Inesperadamente recolhem-se, ficam taciturnas, deprimidas e até chorosas: não querem sair. Tornam-se sombras, invisíveis. Fugidias como as ondas, vão e voltam, mas já não são as mesmas, mudam de roupagem. E cheias de mistérios - talvez a palavra vez ou outra se transforme numa pedra no meio do pensamento e tenha que ficar um bom tempo em frente ao mar pra ver se consegue pular para a página de um caderno!

21/08/2025

Perguntas...

 





As pedras estavam no meio da ponte; a ponte caiu, as pedras afundaram no rio que segue tranquilo e caudaloso. Quem atirou a primeira pedra? Quantos tropeçaram, quantas cabeças foram quebradas? Quem escondeu a mão depois de atirar a primeira pedra?

Jabuti não sobe em árvore assim como pedras não caminham, mas as Geni sempre sabem quem as atira...!

06/08/2025

De Maquiavel

 




Quando chega a noite, volto para casa e vou para meu estúdio. No umbral, tiro as roupas do dia, enlameadas e suarentas, e visto paramentos dignos de corte ou palácio, e, nesses trajes mais graves, penetro nos recintos dos antigos e sou recebido por eles, e ali provo do alimento que me é mais afeito, para o qual nasci. Ali ouso falar-lhes e perguntar sobre os motivos de seus atos, e eles me respondem com toda humanidade. E por quatro horas esqueço este mundo, não lembro dos aborrecimentos, não temo a pobreza, não tremo diante da morte: sou parte daquele mundo. (Nicolau Maquiavel -Florença 1469-1527)

No final do século XV Maquiavel tentava exercitar sua memória entre os livros de sua preferência, geralmente à noite, quando o leitor, segundo ele, sentia-se mais íntimo dos livros, e com o pensamento mais livre.


Niccolò di Bernardo dei Machiavelli

Florença(Itália) 1469-1527