Aos que vão nascer
Realmente, eu vivo um tempo sombrio.
A inocente palavra é um despropósito.
Uma fronte sem rugas demonstra insensibilidade.Quem etá rindo
é porque não recebeu ainda a notícia terrível!
Que tempo é este, em que uma conversa sobre árvores
é quase uma falta, pois implica em silenciar tantos crimes?
Esse que vai cruzando a rua calmamente, então já não está
ao alcance dos amigos necessitdados?
............................................................................
Dizem-me: Vai comendo e bebendo! Alegra-te pelo que tens!
Mas como hei de comer e beber, se o que como é tirado
de quem tem fome e meu copo de água falta a quem tem sede?
No entanto eu como e bebo.
Eu bem que gostaria de ser um sábio.
Nos velhos livros está o que é sabedoria:
manter-se longe das lidas do mundo e o tempo breve
deixar correr sem medo.
Também saber passar sem violência, pagar o mal com o bem,
os próprios desejos não realizar e sim esquecer,
conta-se como sabedoria.Não posso nada disso:
Realmente, eu vivo num tempo sombrio!
Vós, que vireis na crista da maré em que nos afogamos, pensai,
quando falardes em nossas fraquezas, no tempo sombrio
do qual escapastes.
...................................................................................................
E entretanto sabíamos:
também o ódio à baixeza endurece as feições:
também a raiva contra a injustiça torna a voz mais rouca.
Ah, e nós que pretendíamos preparar o terreno para a amizade,
nem bons amigos nós mesmos pudemos ser.
Mas vós, quando chegar a ocasião de ser o homem um parceiro
para o homem, pensai em nós com simpatia.
Bertolt Brecht - 1898-1956
DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)
Arder na água, afogar-se no fogo.
O mais importante é saber atravessar o fogo.
21/12/2008
11/12/2008
Primeiro levaram os negros,
mas não me importei com isso.
Eu não sou negro.
Em seguida, levaram alguns operários,
mas não me importei com isso.
Eu também não sou operário.
Depois prenderam os miseráveis,
mas não me importei com isso,
porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados,
mas como tenho meu emprego,
também não me importei.
Agora estão me levando,
mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém,
ninguém se importa comigo
Bertold Brecht, dramaturgo alemão (1898-1956)
mas não me importei com isso.
Eu não sou negro.
Em seguida, levaram alguns operários,
mas não me importei com isso.
Eu também não sou operário.
Depois prenderam os miseráveis,
mas não me importei com isso,
porque eu não sou miserável.
Depois agarraram uns desempregados,
mas como tenho meu emprego,
também não me importei.
Agora estão me levando,
mas já é tarde.
Como não me importei com ninguém,
ninguém se importa comigo
Bertold Brecht, dramaturgo alemão (1898-1956)
03/12/2008
No Japão do período Heian (794-1192), assim como na Grécia clássica, no islã,
na India pós-védica e em tantas outras sociedades, as mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura "séria": deviam confinar-se ao
reino da diversão banal e frívola, que os eruditos confucianos desprezavam, e havia uma distinção clara entre literatura e linguagem "masculina"(com temas heróicos e filosóficos e voz pública) e "feminina"(trivial, doméstica e íntima). Essa distinção foi levada para muitas áreas diferentes: Por exemplo, como os modos chineses continuavam a ser admirados, a pintura chinesa era chamada de "masculina", enquanto a pintura japonesa, muito leve, era "feminina".
Mesmo que todas as bibliotecas de literatura chinesa e japonesa estivessem abertas para elas, as mulheres do período Heian não encontrariam o som de suas vozes na maioria dos livros do período.Portanto, em parte para aumentar
seu estoque de material de leitura, em parte para obter acesso a material de leitura que respondesse às suas preocupações específicas, elas criaram uma literatura própria.Desenvolveram uma transcrição fonética da língua que tinham permissão para falar, o kanabungaka, um japonês expurgado de quase todas as construções com palavras chinesas. Essa língua escrita veio a ser conhecida como "escrita das mulheres" e, estando restrita à mão feminina, adquiriu, aos olhos dos homens que as dominavam, uma qualidade erótica. Para ser atraente, uma mulher precisava não apenas possuir encantos físicos, mas também escrever com caligrafia elegante, bem como ser versada em música e saber ler, interpretar e escrever poesia. Essas realizações no entanto, jamais eram equiparáveis às dos artistas e estudiosos masculinos.
"Uma História da Leitura" - Alberto Manguel
na India pós-védica e em tantas outras sociedades, as mulheres estavam proibidas de ler o que se considerava literatura "séria": deviam confinar-se ao
reino da diversão banal e frívola, que os eruditos confucianos desprezavam, e havia uma distinção clara entre literatura e linguagem "masculina"(com temas heróicos e filosóficos e voz pública) e "feminina"(trivial, doméstica e íntima). Essa distinção foi levada para muitas áreas diferentes: Por exemplo, como os modos chineses continuavam a ser admirados, a pintura chinesa era chamada de "masculina", enquanto a pintura japonesa, muito leve, era "feminina".
Mesmo que todas as bibliotecas de literatura chinesa e japonesa estivessem abertas para elas, as mulheres do período Heian não encontrariam o som de suas vozes na maioria dos livros do período.Portanto, em parte para aumentar
seu estoque de material de leitura, em parte para obter acesso a material de leitura que respondesse às suas preocupações específicas, elas criaram uma literatura própria.Desenvolveram uma transcrição fonética da língua que tinham permissão para falar, o kanabungaka, um japonês expurgado de quase todas as construções com palavras chinesas. Essa língua escrita veio a ser conhecida como "escrita das mulheres" e, estando restrita à mão feminina, adquiriu, aos olhos dos homens que as dominavam, uma qualidade erótica. Para ser atraente, uma mulher precisava não apenas possuir encantos físicos, mas também escrever com caligrafia elegante, bem como ser versada em música e saber ler, interpretar e escrever poesia. Essas realizações no entanto, jamais eram equiparáveis às dos artistas e estudiosos masculinos.
"Uma História da Leitura" - Alberto Manguel
27/11/2008
Ó África Pátria do Mundo
Enquanto te espreguiças numa letargia sem fim
O mundo lá fora implacável
Prossegue
Na senda auto-destrutiva do Planeta e de Ti
Ó África Pátria do Mundo
Teus filhos no poder, o que fazem então?
Aconchegados nos sofás dos Mercedes
Com wisky e televisão!?
Importados, longe do sertão(made in Germany, UK e Japão)
Enquanto seus sútidos minguam sem um tostão
Nas sobras dos donativos fora de prazo
Sobrevivem nas lixeiras do egoísmo
Sem chegarem a viver um dia sequer
Circulando como zombies no supérfluo do luxo
no entulho
Ó África Pátria do Mundo
Combatentes da outra Liberdade esquecida democraticamente
Em nome da modernidade globalizada nas contas bancárias
E nas propinas recebidas a troco da penhora do País
Ó África Pátria do Mundo
Reage
E diz-me que é só um pesadelo
Que amanhã é outro dia
E tu renovada surgirás enfeitando tuas crianças
De flores, pão e amor, livros e solidariedade
"Na mesa da fraternidade"
Como um teu descendente na América disse,
Também um dia que tinha um sonho!
Ó África Pátria do Mundo...
Ó África Pátria do Mundo - João Craveirinha, escritor e pintor moçambicano
Enquanto te espreguiças numa letargia sem fim
O mundo lá fora implacável
Prossegue
Na senda auto-destrutiva do Planeta e de Ti
Ó África Pátria do Mundo
Teus filhos no poder, o que fazem então?
Aconchegados nos sofás dos Mercedes
Com wisky e televisão!?
Importados, longe do sertão(made in Germany, UK e Japão)
Enquanto seus sútidos minguam sem um tostão
Nas sobras dos donativos fora de prazo
Sobrevivem nas lixeiras do egoísmo
Sem chegarem a viver um dia sequer
Circulando como zombies no supérfluo do luxo
no entulho
Ó África Pátria do Mundo
Combatentes da outra Liberdade esquecida democraticamente
Em nome da modernidade globalizada nas contas bancárias
E nas propinas recebidas a troco da penhora do País
Ó África Pátria do Mundo
Reage
E diz-me que é só um pesadelo
Que amanhã é outro dia
E tu renovada surgirás enfeitando tuas crianças
De flores, pão e amor, livros e solidariedade
"Na mesa da fraternidade"
Como um teu descendente na América disse,
Também um dia que tinha um sonho!
Ó África Pátria do Mundo...
Ó África Pátria do Mundo - João Craveirinha, escritor e pintor moçambicano
26/11/2008
No fim das contas, penso que devemos ler somente livros que nos mordam e piquem. Se o livro que estamos lendo não nos sacode e acorda como um golpe no crânio, por que nos darmos ao trabalho de lê-lo? Para que nos faça feliz, como diz você? Meu Deus, seríamos felizes da mesma forma se não tivéssemos livros.Livros que nos façam felizes, em caso de necessidade, poderíamos escrevê-los nós mesmos.Precisamos é de livros que nos atinjam como o pior dos infortúnios, como a morte de alguém que amamos mais do que a nós mesmos, que nos façam sentir como se tivéssemos sido banidos para a floresta, longe de qualquer presença humana, como um suicídio.Um livro tem de ser um machado para o mar gelado de dentro de nós. É nisso que acredito.
Trecho de uma carta que Kafka escreveu ao amigo Oskar Pollak em 1904
Trecho de uma carta que Kafka escreveu ao amigo Oskar Pollak em 1904
23/11/2008
Xixiu mal olhou para fora, ficou alucinado com a paisagem. Parecia um monstro. Da janela mesmo gritou para o universo, que se compunha de quatro
pessoas, além dele e de minha irmã Belsie:
- Nanico, sujeito safado! Tá namorando, não é, seu animal de rabo?!
Nanico tirou rapidamente a mão dos seios de Belinha e respondeu desajeitado:
- Tou.
Apenas belinha, que estava gostando do jardim e das mãos do companheiro,não
se conformou com a intervenção de Xixiu, irmão dela. No entanto, disfarçou a
irritação.Ninguém se irritava naquele dia.Com naturalidade, virou-se para mim, que beijava a um canto a suave Marialice e propôs:
Vamos trocar Surubi, você fica comigo e o besta do meu irmão se ajunta com
a hipócrita da minha irmã.
A Casa do girassol vermelho, do livro de contos O ex-mágico (1947) de
Murilo Rubião, escritor mineiro nascido em Carmo de Minas-MG. É considerado um dos precursores do realismo fantástico brasileiro. Escreveu também A estrela vermelha(1953), Os dragões e outros contos
(1965), O pirotécnico Zacarias(1974), O homem do boné cinzento e outros contos e O convidado, que demorou vinte e seis anos para concluí-lo. Nasceu em 1916 e faleceu em 1991.
pessoas, além dele e de minha irmã Belsie:
- Nanico, sujeito safado! Tá namorando, não é, seu animal de rabo?!
Nanico tirou rapidamente a mão dos seios de Belinha e respondeu desajeitado:
- Tou.
Apenas belinha, que estava gostando do jardim e das mãos do companheiro,não
se conformou com a intervenção de Xixiu, irmão dela. No entanto, disfarçou a
irritação.Ninguém se irritava naquele dia.Com naturalidade, virou-se para mim, que beijava a um canto a suave Marialice e propôs:
Vamos trocar Surubi, você fica comigo e o besta do meu irmão se ajunta com
a hipócrita da minha irmã.
A Casa do girassol vermelho, do livro de contos O ex-mágico (1947) de
Murilo Rubião, escritor mineiro nascido em Carmo de Minas-MG. É considerado um dos precursores do realismo fantástico brasileiro. Escreveu também A estrela vermelha(1953), Os dragões e outros contos
(1965), O pirotécnico Zacarias(1974), O homem do boné cinzento e outros contos e O convidado, que demorou vinte e seis anos para concluí-lo. Nasceu em 1916 e faleceu em 1991.
21/11/2008
Meu coração é como o frio espectro de Is, a submersa:
cobrem-no turvas águas silenciosas e a fluida fauna dos
pecados e das penas que eu vivi outrora, quando vivo.
Tudo é profundo, inerte, escuro, neste meu grande mundo
extinto e é vão que ainda perpassam sobre os seus escombros,
sobras de sonhos, lívidas, incertas, como peixes sonâmbulos.
De quando em vez, porém, sinto nascer de mim, como de um
estranho abismo, cantos plangentes, mil vozes em coro, que
me surpreendem e animam como deuses ou me apavoram.
Não sei como explicar - ninguém o sabe - esses cantos funéreos
ou divinos que assim despertam e vibram no meu peito, em meio
à grande deusa noite de minha alma, como sinos submersos.
"Os Sinos de Is" - Campos de Carvalho - 1916-1998
cobrem-no turvas águas silenciosas e a fluida fauna dos
pecados e das penas que eu vivi outrora, quando vivo.
Tudo é profundo, inerte, escuro, neste meu grande mundo
extinto e é vão que ainda perpassam sobre os seus escombros,
sobras de sonhos, lívidas, incertas, como peixes sonâmbulos.
De quando em vez, porém, sinto nascer de mim, como de um
estranho abismo, cantos plangentes, mil vozes em coro, que
me surpreendem e animam como deuses ou me apavoram.
Não sei como explicar - ninguém o sabe - esses cantos funéreos
ou divinos que assim despertam e vibram no meu peito, em meio
à grande deusa noite de minha alma, como sinos submersos.
"Os Sinos de Is" - Campos de Carvalho - 1916-1998
19/11/2008
"Porque em todas as circunstâncias da vida real,
não é a alma dentro de nós, mas sua sombra, o
homem exterior, que geme, se lamenta e desempenha
todos os papéis neste teatro palcos múltiplos,
que é a terra inteira".
Plotino, filósofo neoplatônico, nasceu na cidade egípcia de Licópolis em 205 e faleceu em 270 d.C. vítima de lepra. É autor de "As Enéadas".
não é a alma dentro de nós, mas sua sombra, o
homem exterior, que geme, se lamenta e desempenha
todos os papéis neste teatro palcos múltiplos,
que é a terra inteira".
Plotino, filósofo neoplatônico, nasceu na cidade egípcia de Licópolis em 205 e faleceu em 270 d.C. vítima de lepra. É autor de "As Enéadas".
08/11/2008
Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
Graciliano Ramos - 1892-1953
Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.
Graciliano Ramos - 1892-1953
28/10/2008
Pela minha vida, sem amargura,
sem suspiro, vai uma dor sombria.
Dos meus sonhos, a florescência pura
é a bênção de meu mais tranquilo dia.
às vezes cruza a trilha que acompanho
a grande questão. Sigo assim, frio,
pequeno, como à margem de um rio
do qual não ouso medir o tamanho.
Então me vem um lamento, um torpor
cinza, como nas noites de verão,
céus em que raro uma estrela se acende.
Minhas mãos tateiam por amor,
porque gostaria de fazer uma oração,
mas ela escapa à minha boca quente...
"Soneto" - Franz Xaver Kappus, poeta contemporâneo de Rainer Maria Rilke (1875-1926)
sem suspiro, vai uma dor sombria.
Dos meus sonhos, a florescência pura
é a bênção de meu mais tranquilo dia.
às vezes cruza a trilha que acompanho
a grande questão. Sigo assim, frio,
pequeno, como à margem de um rio
do qual não ouso medir o tamanho.
Então me vem um lamento, um torpor
cinza, como nas noites de verão,
céus em que raro uma estrela se acende.
Minhas mãos tateiam por amor,
porque gostaria de fazer uma oração,
mas ela escapa à minha boca quente...
"Soneto" - Franz Xaver Kappus, poeta contemporâneo de Rainer Maria Rilke (1875-1926)
13/10/2008
Até agora eu não me conhecia.
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.
Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim...e não me via!
Andava a procurar-me - pobre louca!
- E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma !
"Eu" - Florbela D'Alma da Conceição Espanca, poeta portuguesa(1894-1930)
Julgava que era Eu e eu não era
Aquela que em meus versos descrevera
Tão clara como a fonte e como o dia.
Mas que eu não era Eu não o sabia
E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
Olhos fitos em rútila quimera
Andava atrás de mim...e não me via!
Andava a procurar-me - pobre louca!
- E achei o meu olhar no teu olhar,
E a minha boca sobre a tua boca!
E esta ânsia de viver, que nada acalma,
É a chama da tua alma a esbrasear
As apagadas cinzas da minha alma !
"Eu" - Florbela D'Alma da Conceição Espanca, poeta portuguesa(1894-1930)
12/10/2008
E agora, o que vou fazer de todo esse tempo,
o que será de minha vida, de todas essas pessoas,
que me são indiferentes...?
Agora que te foste, todas estas noites...
Por quê... para quem?
E esta manhã que volta para nada?
Este coração que bate...bate tão forte...!
E agora, o que vou fazer com esse vazio que acompanhará minha vida?
Me deixaste o mundo inteiro,
mas o mundo sem ti é tão pequeno!
Vocês, meus amigos, sabem muito bem
que não se pode fazer nada...
Até Paris enche-se de tédio, todas essas ruas me aborrecem!
E agora, o que vou fazer?
Vou rir para não chorar...
Incendiarei todas as noites...
Pela manhã te odiarei!
"E Agora ?" - tradução livre de cirandeira
o que será de minha vida, de todas essas pessoas,
que me são indiferentes...?
Agora que te foste, todas estas noites...
Por quê... para quem?
E esta manhã que volta para nada?
Este coração que bate...bate tão forte...!
E agora, o que vou fazer com esse vazio que acompanhará minha vida?
Me deixaste o mundo inteiro,
mas o mundo sem ti é tão pequeno!
Vocês, meus amigos, sabem muito bem
que não se pode fazer nada...
Até Paris enche-se de tédio, todas essas ruas me aborrecem!
E agora, o que vou fazer?
Vou rir para não chorar...
Incendiarei todas as noites...
Pela manhã te odiarei!
"E Agora ?" - tradução livre de cirandeira
10/10/2008
Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente... E então?
Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais - côncavos, convexos, parabólicos - além da possibilidade de outros, não descobertos, apenas, ainda?
[...........................] Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.
"O Espelho" em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa
Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais - côncavos, convexos, parabólicos - além da possibilidade de outros, não descobertos, apenas, ainda?
[...........................] Tirésias, contudo, já havia predito ao belo Narciso que ele viveria apenas enquanto a si mesmo não se visse... Sim, são para se ter medo, os espelhos.
"O Espelho" em Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa
04/10/2008
Durante muito tempo a nacionalidade viveu da mescla de três raças que os poetas xingaram de tristes: as três raças tristes.
A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de "mostrar suas vergonhas". A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se enamoraram das moças "bem gentis" daquela, que tinham cabelos "mui pretos, compridos pelas espáduas".
E nasceram os primeiros mamalucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente.Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas, macumas.
E nasceram os segundos mamalucos.
E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil.O colosso começou a rolar.
Trecho de Brás, Bixiga e Barra Funda, de Antonio de Alcântara Machado (1901-1935)
A primeira, as caravelas descobridoras encontraram aqui comendo gente e desdenhosa de "mostrar suas vergonhas". A segunda veio nas caravelas. Logo os machos sacudidos desta se enamoraram das moças "bem gentis" daquela, que tinham cabelos "mui pretos, compridos pelas espáduas".
E nasceram os primeiros mamalucos.
A terceira veio nos porões dos navios negreiros trabalhar o solo e servir a gente.Trazendo outras moças gentis, mucamas, mucambas, munibandas, macumas.
E nasceram os segundos mamalucos.
E os mamalucos das duas fornadas deram o empurrão inicial no Brasil.O colosso começou a rolar.
Trecho de Brás, Bixiga e Barra Funda, de Antonio de Alcântara Machado (1901-1935)
27/09/2008
" Começo a sentir a embriaguez a que essa vida agitada e tumultuosa me condena. Com tal quantidade de objetos desfilando diante de meus olhos, eu vou ficando aturdido. De todas as coisas que me atraem, nenhuma toca o meu coração, embora todas juntas perturbem os meus sentimentos, de modo a fazer que eu esqueça o que sou e qual é o meu lugar." (Jean-Jacques Rousseau, de "A Nova Heloísa, cartas)
25/09/2008
O mistério das coisas, onde está ele?
Onde está ele que não aparece
Pelo menos a mostrar-nos que é mistério?
Que sabe o rio e que sabe a árvore
E eu, que não sou mais do que eles,
Que sei disso? Sempre que olho para as coisas
E penso no que os homens pensam delas,
Rio como um regato que soa fresco numa pedra.
Porque o único sentido oculto das coisas é elas
Não terem sentido oculto nenhum.
É mais estranho do que todas as estranhezas
e do que os sonhos de todos os poetas
E os pensamentos de todos os filósofos,
Que as coisas sejam realmente o que parecem ser
E não haja nada que compreender.
.(.................) As coisas não têm significação: têm existência
As coisas são o único sentido oculto das coisas.
Fernando Pessoa (1888-1935)O guardador de rebanhos
19/09/2008
Hay golpes en la vida, tan fuertes....
Yo no sé !
Como si ante ellos la resaca de todo lo sufrido
se empezara en alma.
Yo no sé!
Son pocos, pero son...
Abren zanjas oscuras en el rostro
mas fiero y el homo más fuerte. Serian talvez
los potros de bárbaros atilas o los heraldos negros
que nos manda la Muerte....
César Vallejo
Yo no sé !
Como si ante ellos la resaca de todo lo sufrido
se empezara en alma.
Yo no sé!
Son pocos, pero son...
Abren zanjas oscuras en el rostro
mas fiero y el homo más fuerte. Serian talvez
los potros de bárbaros atilas o los heraldos negros
que nos manda la Muerte....
César Vallejo
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