Meu coração é como o frio espectro de Is, a submersa:
cobrem-no turvas águas silenciosas e a fluida fauna dos
pecados e das penas que eu vivi outrora, quando vivo.
Tudo é profundo, inerte, escuro, neste meu grande mundo
extinto e é vão que ainda perpassam sobre os seus escombros,
sobras de sonhos, lívidas, incertas, como peixes sonâmbulos.
De quando em vez, porém, sinto nascer de mim, como de um
estranho abismo, cantos plangentes, mil vozes em coro, que
me surpreendem e animam como deuses ou me apavoram.
Não sei como explicar - ninguém o sabe - esses cantos funéreos
ou divinos que assim despertam e vibram no meu peito, em meio
à grande deusa noite de minha alma, como sinos submersos.
"Os Sinos de Is" - Campos de Carvalho - 1916-1998
gosto do Campos de Carvalho...
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