Alberto Burri
Velho Oceano, tuas águas são amargas...É exatamente o mesmo gosto de fel que a crítica destila sobre as belas artes, sobre as ciências, sobre tudo...Se alguém possui gênio, fazem-no passar por idiota; se alguém tem um belo corpo, torna-se um corcunda horrível. Sem dúvida, é preciso que o homem sinta com toda a força sua imperfeição, cujos três quartos, aliás, só se devem a ele mesmo, para assim criticá-la! Eu te saúdo, velho Oceano!Velho Oceano, os homens, apesar da excelência de seus métodos, ainda não chegaram, com a ajuda dos meios de investigação da ciência, a medir a profundidade vertiginosa de teus abismos; tens alguns que foram reconhecidos como inacessíveis pelas mais longas, pelas mais pesadas sondas. Aos peixes isso é permitido, aos homens não. Frequentemente tenho me perguntado o que seria mais fácil de reconhecer: a profundidade do oceano ou a profundidade do coração humano! Frequentemente, com a mão na fronte, em pé sobre os navios, enquanto a lua balançava sobre os mastros de maneira irregular, surpreendi-me, fazendo abstração de tudo que não fosse o fim a que aspirava, esforçando-me em resolver esse difícil problema! Sim, qual o mais profundo, o mais impenetrável dos dois: o oceano ou o coração do homem?
Isidore Ducasse, Montevidéu, 1846-1870
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