DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

01/10/2013

Os versos de rua

Existem versos em demasia no mundo. Como o vagabundo, que engendra e abandona, a buscar outro atalho, ainda que nada o obrigue ou que espere. Vejo-os formar-se indefesos e saírem em busca de alguém que os protejam. A imensa maioria lhes dá as costas. Quando eles se aproximam, as pessoas desviam o olhar e agem como se eles não existissem. Em seu desamparo os versos se drogam, aspirando o Nada, e ficam inertes na esquina.
 
 

 
 
 
Alguns se dão valor para mostrar-se em lugares públicos. Tão pouco alí os consideram, as pessoas os expulsam de modo grosseiro. Então, eles entram nos vagões do Metrô e tentam divulgar sua mercadoria entre a hostilidade, o desespero ou a indiferença dos passageiros. Não lhes resta outra alternativa senão entrar nas casas, já que não são vistos, e tratar de abrir os olhos, os ouvidos e a mente de quem não os invadiu.
 
 
 
 
 
Como não viver agradecido, se os recolhes por um instante e torna-os parte de tua voz interior, de tua respiração e do fluir rítmico de teu sangue? Pelo menos por essa noite os versos da rua, os filhos da inconsciência e da intempérie, estão a salvo. Amanhã quem sabe. Só existe uma coisa certa: dentro de pouco tempo eles também se terão evaporado. Novas legiões darão testemunho às cidades.
 
 
José Emílio Pacheco, Cidade do México (1939-   )

4 comentários:

  1. Csramba, eu fiquei pensando nos versos que não vejo, não leio, enquanto passo correndo, apressada... José Emílio Pacheco: quem és, ou foi?
    Beijos, Ci!

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  2. Maravilhosamente verdadeiro, Ci!

    Adorei! Beijo :)

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  3. UNA GRAN REALIDAD DE LAS CIUDADES LATINOAMERICANAS.
    UN ABRAZO

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  4. E aí, Ci!

    Esse texto nos faz pensar na quantidade de universos que nos deparamos por aí e mal nos damos conta.

    FaloU!

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