DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

31/05/2014

Vestida de Noite


 
 

às vezes penso: é inútil escrever a palavra está vestida de noite sem estrelas
envolta numa capa tosca de forma tão rasa que desmancha-se mergulha no ar nos poros azuis do infinito nua desprovida de significados
 
já não existem dicionários as regras gramaticais caíram (por obsolescência)
da árvore do saber sobre o solo do abandono diante da banalidade da vida
 
corpos folhas frutos
apodrecem nos beirais
das ruas entulhadas
de carros, de lixos humanos
sob olhares indiferentes 
passos apressados para
chegar ao nada
 
o saber transformou-se numa caixa preta mergulhada em mares profundos
de acesso impenetrável imune a sofisticações tecnológicas
 
"cabeças pensantes" julgam ter descoberto a roda outra vez
apregoando falsos ensinamentos aos desavisados
na expectativa que a história se repita e tudo continue
como sempre
 
 as palavras são como
um rio perene seguindo
seguindo seu curso
se renovando sempre
 
 quando não renovadas secam e não adianta invocar passarinhos, desenhar  aroma de flores colorir de nuvens o chão onde uns pisam sobre os outros de forma benevolentemente dissimulada
 
 

4 comentários:

  1. UN POEMA NOSTÁLGICO, QUE HACE PONER LOS PIES SOBRE LA TIERRA.
    UN ABRAZO

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  2. Ci,
    É quando tudo parece cair que o brilho da árvore da sabedoria mais se insinua.

    Beijo :)

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  3. "às vezes penso: é inútil escrever a palavra está vestida de noite sem estrelas"
    mesmo a noite, por mais escura que seja, é sempre a promessa de um dia claro...
    excelente poema.
    Bjs

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  4. e para se renovar a palavra é preciso adquirir conhecimento. e a leitura é essencial nesse processo. e é por isso que, embora não tão assiduamente como queria ou gostaria, não deixo de me reciclar aqui no teu blog. lindo texto, amiga! beijos.

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