Ars Poética
Poesia é coisa
De mulheres.
Um serviço usual,
Reacender de fogos.
Nas esquinas da morte
Enterrei a gorda
Placenta enxudiosa
E caminhei serena
Sobre as brasas
Até o lado de lá
Onde o demônio habita.
Poesia é sempre assim:
Uma alquimia de fetos.
Um lento porejar
De venenos sob a pele.
Poesia é a arte da rapina.
Não a caça, propriamente,
Mas sempre nas mãos
Um lampejo de sangue.
Em vão
Procuro meu destino:
No pássaro esquartejado
A escritura das vísceras.
Poesia como antojos,
Como um ventre crescendo,
A pele esticada
De úteros estalando.
Poesia é esta paixão
Delicada e perversa,
Esta umidade perolada
A escorrer de meu corpo
Empapando-me as roupas
Como uma água de febre.
Poesia é coisa
De mulheres.
Um serviço usual,
Reacender de fogos.
Nas esquinas da morte
Enterrei a gorda
Placenta enxudiosa
E caminhei serena
Sobre as brasas
Até o lado de lá
Onde o demônio habita.
Poesia é sempre assim:
Uma alquimia de fetos.
Um lento porejar
De venenos sob a pele.
Poesia é a arte da rapina.
Não a caça, propriamente,
Mas sempre nas mãos
Um lampejo de sangue.
Em vão
Procuro meu destino:
No pássaro esquartejado
A escritura das vísceras.
Poesia como antojos,
Como um ventre crescendo,
A pele esticada
De úteros estalando.
Poesia é esta paixão
Delicada e perversa,
Esta umidade perolada
A escorrer de meu corpo
Empapando-me as roupas
Como uma água de febre.
Revesti-me de mistério
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.
No fundo, não me importa
O enigma que proponho.
Por ser mulher e pássaro
E leoa,
Tendo forjado em aço
As minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram
Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada
E por saber que a morte
É a última chave,
Adivinho-me nas vítimas que estraçalho.
Myriam Fraga, escritora e poeta nascida em Salvador(BA), foi diretora da Fundação Casa de Jorge Amado e membro da Academia de Letras da Bahia.
Por ser frágil,
Pois bem sei que decifrar-me
É destruir-me.
No fundo, não me importa
O enigma que proponho.
Por ser mulher e pássaro
E leoa,
Tendo forjado em aço
As minhas garras,
É que se espantam
E se apavoram
Não me exalto.
Sei que virá o dia das respostas
E profetizo-me clara e desarmada
E por saber que a morte
É a última chave,
Adivinho-me nas vítimas que estraçalho.
Myriam Fraga, escritora e poeta nascida em Salvador(BA), foi diretora da Fundação Casa de Jorge Amado e membro da Academia de Letras da Bahia.
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