DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

07/01/2018

Só rindo...!


 
 

                   O riso moderno existe para mascarar a perda de sentido. É mais indispensável que nunca. Outrora,   ele
estancava as insuficiências, os defeitos - emplastro que se
colava sobre as pequenas chagas da existência. Agora, é a
própria existência que está ferida. Só o riso injetado em alta
dose, pode mantê-la com vida artificial, sob perfusão. Sejamos honestos: a humanidade ri amarelo e não somente
porque a metade de seus membros é oriental.A explosão do
riso no ano 2000 foi menos um grito de entusiasmo do que o clamor de um mundo que procura ter segurança fazendo barulho no escuro.
É inútil voltar à lista de males e catástrofes que se abatem sobre os sete bilhões de indivíduos que gesticulam desesperadamente sobre este minúsculo planeta, os quais nem sequer sabem por que estão aqui e só têm um objetivo
- passar o tempo como podem, jogando futebol, escrevendo
livros, fazendo aumentar a cifra dos negócios de uma empresa, cultivando seu jardim, completando a volta ao mundo ou assistindo à televisão - qualquer coisa, enquanto esperam o fim, que os progressos da medicina não cessam de retardar. Uma motivação é avançada, certamente:
preparar o mundo para a geração seguinte, que fará o mesmo pela seguinte e assim por diante.  Mas  o  que importa? Nenhum de nós verá isso! Essa verdade é insuportável, e só o riso permite suportar o insuportável, disfarçando-o, zombando dele, brincando. O riso é indispensável porque, mais do que nunca, estamos diante do vazio. Breve, todas as pessoas terão um telefone celular e um site da web; cada um poderá saber tudo sobre cada um, satisfazer virtualmente todas as suas fantasias - e com
isso só abraçará melhor o vazio.

 
Georges Minois, historiador francês, em História do Riso e do Escárnio - Editora UNESP

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