DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

19/11/2018

Serão sempre as terras do Senor?



É invasão 
quando gente do campo
planta o espírito de Palmares
e dá vazão ao desejo de criar
um Quilombo
e trabalhar com seus pares?
É invasão 
se as terras do Senhor
cobrem-se de mato
enquanto olhares à espreita
esperam que uma estrela
traga-lhes justiça e
desfaça o temor?
É invasão 
quando em Luíza Mahin
outra mulher se transforma
pra acabar com a dor
de ser tratada como
coisa-ruim?
É invasão 
o homem
fincar os pés na terra, pois
será a própria Tera que
vai devorá-lo como
um joão-ninguém?
Um dia, quem sabe,
despois dos 300, 400, 1000 anos de Palmares
gestaremos novos Zumbis, Acotirenes
para redesenhar
a Nação
e talvez do rubro solo
verdes frutos surgirão.


Ensinamentos

Ser invisível quando não se quer ser
é ser mágico nato.
Não se ensina, não se pratica, mas se aprende
no primeiro dia de aula aprende-se
que é uma ciência exata.
O invisível exercita o ser "zero à esquerda"
o invisível exercita a cidadania
as aulas de emprego, casa e comida
são excluídas do currículo da vida.
Ser invisível quando não se quer ser
é ser um fantasma que não assusta ninguém.
Quando se é invisível sem querer
ninguém conta até dez,
ninguém tapa ou fecha os olhos
a brincadeira agora é outra
os outros brincam de não nos ver.
Saiba que nos tornamos invisíveis
sem truques, sem mágicas.
Ser invisível é uma ciência exata,
mas o invisível é visto no mundo financeiro,
é visto pra apanhar da polícia,
é visto na época das eleições,
é visto para acertar a conta com o Leão,
para pagar prestações e mais prestações.
É tanto zero à esquerda que o invisível
na levada da vida soma-se
a outros tantos zeros à esquerda
para assim construir-se humano.

Esmeralda Ribeiro nasceu em São Paulo em 1958.
É jornalista e escritora com vários livros publicados. Faz parte do grupo Quilombhoje, além de textos publicados nos Cadernos Negros.

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