Dizem que não dizes, ou por outra, que dizes o que não dizem: que as rosas vermelhas sangram quando cortadas, e que podem transformar-se em bifes que se come à milanesa; dizem que falas de nós de vós deles delas feitos nós de vozes que vociferam sentimentos que só desejam dizer eu eu eu a repercutir ecos infinitos povoados de narcisos inodoros; dizem que teu texto é só queixumes paus pedras sal e cal seca e sol.
Ô língua danada de traiçoeira que enviezadamente envereda por uma mata fechada tentando abrir clareiras contando estórias que parecem não ter pés nem cabeças, como cobra que desliza nas águas profundas de um rio que desemboca no mar das múltiplas palavras, de significados diversos sem ser conto sem ser verso numa cantilena repetitiva de catedral cujos sinos não mais repicam, porque as procissões de hoje são regidas por bombas caseiras e coquetéis molotov.Dizem, dizem que morre eletrocutado quem anda descalço sob a chuva forte nas encostas que desmoronam abrindo crateras engolindo vidas de negros de pobres em condições subumanas, e depois que acontece o desastre todos lamentam e lhes rendem homenagens póstumas.
Dizer por dizer digo pros meus botões sem casa que a porta está fechada com todos dentro, sem nexo sem verso, sem anverso nem reverso e nem por isso o caminho deixará de bifurcar-se em outros, porque ele é infinito...!