Na penúltima hora do último dia de nossas vidas será encontrado um saco cheio de palavras desusadas, deterioradas, misturadas com alguns embriões sobre os ombros de um anônimo caboclo sertanejo: aquele que jamais teve voz nem vez; de olhos arregalados de fome percorre um caminho sob o peso do silêncio, temendo perder sua identidade. A chuva, os rios e peixes, a densa floresta, berço das plantações de feijão, arroz, milho, tudo em vias de extinção. Ele e os seus, tragados e sufocados por esse imenso saco de pandora. Lá fora passa uma noite morna e lenta, sufocante e sem estrelas, enquanto pelo meu corpo escorre um suor quente e salgado; do sangue nas veias por lâminas cortado, transbordam rios de palavras repetidas ad eternum. Acaricio meus cabelos numa tentativa de ativar meus neurônios; não há qualquer resquício de brisa, o vento foi soprar na boca do vulcão, que enfurecido, engole, devora todas as palavras até transformá-las em cinza, para que renasçam outra vez.
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