DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

25/06/2021

Ramargens

 




Brotos que se desprendem das mãos escapam pelos dedos, desmembrando-se em galhos; formam ramos de palavras entrelaçadas de uma árvore quase esquecida. Páginas amarelecidas pela voragem do tempo, folhas secas entre palavras enredadas em longos talos a exibirem espinhos pontiagudos; reproduzem-se em direções opostas. Seu tronco largo e profundo possui raízes que se bifurcam pelo interior da terra; privadas da luz do sol, crescem desordenadamente, formando verdadeiros hieróglifos incompreensíveis, impenetráveis: uma teia de sombras, um tapete transparente, quase invisível. Imagens caleidoscópicas que ofuscam os olhos diante de tanta clareza.                                        A àrvore-Mãe, majestosa e soberana um dia, está isolada de seus filhos; desgarrados de suas origens, tornaram-se vulneráveis e vítimas de aventureiros gananciosos, predadores por excelência. Assim, também as mãos já não conseguem controlar o nascimento dos brotos de palavras: desordenadas e rebeldes diante de tantas ervas daninhas, transformaram-se em ramos, à margem...

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