DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

27/02/2010

Poesia Africana - Moçambique


Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço.

Fugitivas dos Munhuanas e dos Xipomanines,

viemos do outro lado da cidade

com nossos olhos espantados,

nossas almas trançadas,

nossos corpos submissos e escancarados.


De mãos ávidas e vazias,

de ancas bamboleantes lâmpadas vermelhas se acendendo,

de corações amarrados de repulsa,

descemos atraídas pelas luzes da cidade,

acenando convites aliciantes

como sinais luminosos na noite.


Viemos...

Fugitivas dos telhados de zinco pingando cacimba,

do sem sabor do caril de amendoim quotidiano,

do doer espáduas todo o dia vergadas

sobre sedas que outras exibirão,

dos vestidos desbotados de chita,

da certeza terrível do dia de amanhã

retrato fiel do que passou,

sem uma pincelada verde forte

falando de esperança.


"Moças das Docas", de Noemia de Sousa, poeta e jornalista nascida em Catembe, Moçambique. Viajou por todo o continente africano fazendo reportagens sobre as guerras e posteriormente mudou-se para a Europa. Faleceu em Cascais(Portugal)
(1926-2002). Tem publicado o livro de poemas "Sangue Negro".

25/02/2010

"As Flores do Mal"...




A Natureza é um templo onde vivos pilares
deixam às vezes soltar confusas palavras;
o homem o cruza em meio a uma floresta de símbolos
que o observam com olhares familiares.
Como os longos ecos que de longe se confundem
em uma tenebrosa e profunda unidade,
vasta como a noite e como a claridade,
os perfumes, as cores e os sons se correspondem.
Há perfumes frescos como as carnes das crianças,
doces como o oboé, verdes como as pradarias,
- e outros, corrompidos, ricos e triunfantes,
como a expansão das coisas infinitas,
como o âmbar, o almíscar, o benjoim e o incenso,
que cantam o transporte do espírito e dos sentidos.


Correspondências, de Charles Baudelaire
Tradução de Luciano Ferreira Gatti, doutor em Filosofia pela Unicamp(Universidade de Campinas-SP)

21/02/2010

As "Sete Cidades de Pedra" do Piauí....


O Piauí está localizado na região nordeste do Brasil e faz fronteira com os Estados do
Ceará, Bahia, Pernambuco, Maranhão e Tocantins. Como todo o resto do país, era povoado por muitas tribos indígenas, destacando-se a dos Tremembés, que viviam
próximo ao litoral e ao rio Parnaíba. Quase não vemos ou ouvimos falar a respeito
deste Estado e, quando isto acontece, é quase sempre uma abordagem desfavorável
ou até com uma pitada de ironia ou pilhéria. Mesmo acreditando que não se justifica,
tal comportamento, talvez, advenha do fato de o Piauí ser considerado um dos Estados mais pobres de nossa federação. Como se os piauienses fossem os responsáveis por sua pobreza! Mal entendidos à parte, sua população é alegre, afável e hospitaleira; além de possuir uma pequena faixa litorânea com praias em estado quase natural, possui ainda o único delta de rio das Américas(delta do rio Parnaíba) e
sítios arqueológicos como o Parque Nacional da serra da Capivara(a 510km da capital Teresina) e o Parque Nacional de Sete Cidades, entre as cidades de Piripiri e Piracuruca, a 217km de Teresina.
A descoberta oficial das "Sete Cidades de Pedra", como é conhecida, ocorreu em 1886.
Alí foram encontradas várias formações rochosas, conjuntos de monumentos geológicos, que segundo pesquisadores, foram trabalhados pela ação dos ventos e das chuvas, ao longo de milhares de anos (aproximadamente 90 milhões de anos).
As pinturas encontradas nas paredes das rochas, feitas com tinta vermelha, semelhantes a animais, pessoas e objetos, indicam a passagem do homem pré-histórico por aquela região.



"Mão de seis dedos"

"Pedra do camelo"



"Mapa do Brasil"
"Pedra dos Canhões'
Vista panorâmica das "Sete Cidades de Pedra"

Delta do rio Parnaíba

17/02/2010

Poesia Africana - Angola


Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me já às costas, a tábua Eylekessa


Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseiras pesadas
dos dias que passaram...
Sou do clã do boi -


Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo de deserto.
A falta de limite...

Da mistura do boi e da árvore
a efervescência
o desejo
a intranquilidade
a proximidade
do mar

Filha de Huco
com a sua primeira esposa
uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes.


"Rapariga", de Ana Paula Ribeiro Tavares, poeta angolana nascida em Lubango, província da Huila, em 1952. É formada em História, com mestrado em Literaturas Africanas. Reside em Lisboa, onde faz um doutorado e dá aulas na Universidade Católica. Já publicou "Ritos de Passagem", "O Lago da Lua" e "Manual dos Amantes Desesperados".

10/02/2010

Pausa forçada....

Infelizmente a máquina está no" hospital", mais uma vez!
Espero recebê-la de volta antes do carnaval. Se não....
Melhor dormir feito onça!!!

02/02/2010

Pouso


Ó passaro, em minha mão

encontram-se,

tua liberdade intacta

minha aguda consciência.


Ó pássaro, em minha mão

teu canto

de vitalidade pura

encontra a minha humanidade.


Ó pássaro, em minha mão

pousado

será possível cantarmos

em uníssono


se és o raro pouso

do sentimento vivo

e eu, pranto vertido

na palavra?


Orides Fontela (1940-1998)