DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

17/02/2010

Poesia Africana - Angola


Cresce comigo o boi com que me vão trocar
Amarraram-me já às costas, a tábua Eylekessa


Filha de Tembo
organizo o milho

Trago nas pernas as pulseiras pesadas
dos dias que passaram...
Sou do clã do boi -


Dos meus ancestrais ficou-me a paciência
O sono profundo de deserto.
A falta de limite...

Da mistura do boi e da árvore
a efervescência
o desejo
a intranquilidade
a proximidade
do mar

Filha de Huco
com a sua primeira esposa
uma vaca sagrada,
concedeu-me
o favor das suas tetas úberes.


"Rapariga", de Ana Paula Ribeiro Tavares, poeta angolana nascida em Lubango, província da Huila, em 1952. É formada em História, com mestrado em Literaturas Africanas. Reside em Lisboa, onde faz um doutorado e dá aulas na Universidade Católica. Já publicou "Ritos de Passagem", "O Lago da Lua" e "Manual dos Amantes Desesperados".

8 comentários:

  1. Não conhecia a poeta, achei o poema estranho e belo. Em geral nós, brasileiros, conhecemos mal a poesia africana, inclusive a de língua portuguesa. É excelente quando a vemos divulgada, como neste post, Cirandeira. Obrigada.

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  2. Conheco esta poeta e continuamos esperando sempre mais e mais da sua pena.
    Obrigado.
    Kandandu

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  3. Cirandeira,

    Quanto ao pedido que me fez,lá no meu blog, penso que, sendo Ana Paula Tavares natural da província da Huíla, o termo “tábua Eylekessa” seja da tradição do povo Nhaneka-Humbi, que pode incluir, entre outras tribos, os Muíla. Angola tem muitos povos, muitas línguas e expressões culturais diferentes. Embora a maioria seja Bantu, isso não significa uma linearidade pois Bantu é só um termo para aglutinar uma família de línguas ( Bantu é o plural de homens, cujo singular é ntu).
    Eu não conheço o significado concreto de “tábua Eylekessa” mas pela leitura do poema e pelos conhecimentos da tradição do casamento posso dizer que se trata de um símbolo que diz a toda a gente que aquela jovem rapariga está cumprindo um ritual relacionado com o seu casamento. Os seus pais concordaram e já concentiram no casamento, ela está comprometida. Agora só falta os pais, ou melhor o seu pai, receber o dote de casamento que é conhecido, em geral, por alembamento. Nas sociedades Bantu, o dote é pago ao pai da noiva, pelos pais do noivo, pode consistir de várias coisas materiais mas nas culturas mais tradicionais e onde predomina a pastorícia, o noivo pagará o alembamento com bois, cabras ou outro qualquer animal que tenha sido acordado. O número de animais depende da importancia social dos pais da noiva e é acordado antes do pagamento do alembamento.Por isso é muito vantajoso ter filhas.
    Espero ter ajudado em alguma coisa. Infelizmente nada de mais concreto sei sobre este termo.
    Kandandu

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  4. "Obrigadíssima", Namibiano. Tuas informações me foram muito úteis. Busquei informações, mas encontrei apenas algumas inferências, nada como a explicação que destes.Imaginava alguma coisa nesse sentido, mas não tinha certeza.Creio que é isso mesmo.Acho muito importante poder fazer esse intercâmbio de informações sobre a África com alguém que é de lá.
    Um grande abraço, kandandu

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  5. A figura do boi é mesmo emblemática, carregada de símbolos e signos, mas foi usada neste poema de uma forma totalmente diferente. Gostei imensamente. Também não conhecia a poeta, Cirandeira. "Trago nas pernas as pulseiras pesadas dos dias que passaram... " É uma imagem forte e bela demais. Beijos!

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  6. Poesia em língua que todos nós bem percebemos!

    Bendito idioma!

    Saudações

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  7. Ouvíssemos mais a África e seríamos menos geométricamente estúpidos.
    Onde está a África em nós?
    Oculta sob símbolos que se não os tratamos...
    Bendita a rapariga da poeta Ana Paula.
    1 abraço.

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  8. OLá!
    Não conhecia a literatura angolana.
    Que lindeza esta poetisa.
    Ao ler senti saudades dos textos do Africano Mia Couto.
    Bjs!

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