DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

28/04/2010

Outras metamorfoses da memória

Foto: Irmãos Lumière (1904)

Poema 4

Coisas que guardamos
Sempre: antes fitas e cartas, bocados de ternura,
Lembro-me: a minha avó e um caracol louro de mim criança

Evanescentes as coisas que guardamos,
Às vezes encontrá-las por gavetas, às vezes na memória,
Invenções tantas só para mais ninguém: o meu diário
Encapado num papel de flores, passeando na pasta
Em sólido trajecto

Coisas guardadas como essa,
Há curto tempo, tão bonita que pensei outra vez:
Só para mais ninguém, que assim a comoção é minha só
E me posso espantar de cada vez que a lembro

Enquanto estão assim,
Elas são nossas, as coisas que guardamos:
Intactas, a apetecer dizer incólumes,
Por comovidas gavetas e memórias

Ana Luísa Amaral, poeta portuguesa, doutora em Literatura Inglesa, professora da Universidade do Porto, em Portugal.

25/04/2010

Maragogipinho, onde a arte começa pelos pés!

Situado a 58km de Salvador(BA), o município de Maragogipinho, próximo a Nazaré das Farinhas(a 3hs de Salvador) é um verdadeiro celeiro de artistas da cerâmica. A principal atividade econômica da região consiste no trabalho feito com o barro, produzido de uma forma bem rústica, sem nenhuma tecnologia, com o torno de oleiro movido com os pés, por homens e mulheres; os fornos são à lenha e as ferramentas utilizadas são bem rudimentares. É com elas que modelam, decoram e "queimam" potes, moringas, vasos, pratos, tigelas, esculturas, cuja forma tem nítida influência indígena e portuguesa. Uma boa parte da produção é exposta no período da Semana Santa, na "Feira dos Caxixis", em Nazaré das Farinhas. O "caxixi" é a miniatura de uma peça maior, utilitária ou em forma de animal, destinada a uma atividade lúdica (jogos e brinquedos).
As primeiras olarias ou ateliês, foram criadas a cerca de 300 anos pelos jesuítas, às margens do rio Yaguaripe. De lá para cá o ofício tem passado de pai para filho.
As principais características da cerâmica de Maragogipinho, são a sua cor avermelhada proveniente do óxido de ferro(tauá) existente na argila e a tabatinga, de cor branca, usada em forma líquida para fazer os desenhos nas peças.
"Pietá" (terracota), de Rosalvo Santana










Forno à lenha para "queimar" as cerâmicas


As "oficinas" onde são feitas as cerâmicas

23/04/2010

Los versos de la calle


Hay demasiados versos en el mundo. Como el canalla que engendra y abandona, echo a andar otro atajo aunque nadie lo exija ni lo espere. Los veo formarse indefensos y salir en busca de alguien que los resguarde. La immensa mayoria les da la espalda. Cuando ellos se acercan las personas desvian la mirada y hacen como si los versos no existieran. En su desamparo los versos se drogan, aspirando la Nada y se quedan inertes en la esquina. Algunos se dan valor para entrar en lugares públicos.
Tampoco allí los toman en cuenta y el personal los expulsa de mala manera.
Entonces suben los vagones de Metro y intentan pregonar su mercancia entre la hostilidad, el desespero, o cuando menos de indiferencia de los pasajeros. No les queda más remedio que entrar en las casas cuando nadie los ve y tratar de abrirse camino en los ojos, el oído y la mente de quienes no los han invadido.
Como no vivirte agradecido, si tu los recoges por un instante y los vuelves parte de tu voz interior, de tu respiración y el rítmico fluir de tu sangre? Al menos por esa noche los versos de la calle, los hijos de la inconsciência y la intemperie, estan a salvo. Mañana quien sabe. Solo hay algo seguro: dentro de poco ellos también se habrán evaporados. Nuevas legiones atestarán las ciudades.


José Emílio Pacheco, poeta, romancista e ensaísta mexicano. (1939- )

18/04/2010

.....E no entanto, é preciso cantar!


Vamos, carioca!

Sai do teu sono

devagar...

O dia já vem vindo aí,

e o Sol já vai raiar...!





Subí lá no morro só pra ver

o que que o negro tem

pra cantar assim gostoso

e fazer samba como ninguém



Eu sou o samba, a voz do morro

Sou eu mesmo, sim senhor!

Quero mostrar ao mundo que tenho valor

Eu sou o rei do terreiro

Eu sou o samba

Sou natural daqui do Rio de Janeiro

Sou eu quem leva a alegria

para milhões de corações brasileiros!




O morro não tem vez

e o que ele fez já foi demais...!

Mas, olhem bem vocês:

quando derem vez ao morro,

toda a cidade vai cantar!


Escravo no mundo em que estou,

escravo do reino que sou,

mas acorrentado, ninguém pode amar...


Feio, não é bonito

O morro existe, mas pede

pra se acabar

Canta, mas canta triste,

porque tristeza é só o que

tem pra cantar


Chora, mas chora rindo, porque

é valente e nunca se deixa

quebrar

Ama, o morro ama

amor bonito, amor aflito,

que pede outra estória...!
Composições de: Carlos Lyra, Wilson Simonal, Zé Ketti, Tom Jobim, Sérgio Ricardo e Gianfrancesco Guarnieri, em ordem descendente.

13/04/2010

El otro tigre



Pienso en un tigre. La penumbra exalta
la vasta Bibliotece laboriosa
y parece alejar los anaqueles;
fuerte, inocente, ensangrentado y nuevo,
el irá por su selva y su mañana
y marcará su rastro en la limosa
margen de un rio cuyo nombre ignora;
(en su mundo no hay nombres, ni pasado,
ni porvenir, solo un instante cierto.)
Y salvará las bárbaras distancias
y husmeará en el trenzado laberinto
de los olores el olor del alba
y el olor deleitable del venado
Entre las rayas del bambú descifro
sus rayas y presiento la osatura
bajo la piel espléndida que vibra
En vano se interponem los convexos
mares y los desiertos del planeta;
desde esta casa de un remoto puerto
de América del Sur, te sigo y sueño
oh tigre de las márgenes del Ganges
Cunde la tarde en mi alma y refexiono
que el tigre vocativo de mi verso
es un tigre de símbolos y sombras,
una serie de tropos literarios
y de memorias de enciclopedia
y no el trigre fatal, la aciaga joya
que, bajo el sol o la diversa luna,
va cumpliendo en Sumatra o en Bengala
su rutina de amor, de ocio y de muerte
Al tigre de los símbolos he opuesto
el verdadero, el de caliente sangre
el que diezma la tribu de los búfalos
y hoy 3 de agosto del 59,
alarga en la pradera una pausada
sombra, pero ya el hecho de nombrarlo
y de conjeturar su circunstancia
lo hace ficción del arte y no criatura
viviente de las que andan por la tierra
Un tercer tigre buscaremos. Este
será como los otros una forma
de mi sueño, un sistema de palabras
humanas y no el tigre vertebrado
que, mas allá de las mitologias,
pisa la tierra. Bien lo sé, pero algo
me impone esta aventura indefinida,
insensata y antigua, y persevero
en buscar por el tiempo de la tarde
el otro tigre, el que no está en el verso

Jorge Luís Borges - El Hacedor, in Obra Poética - 1923-1985 - B. Aires, 1989
O outro tigre
Penso em um tigre. A penumbra exalta
a vasta Biblioteca laboriosa
e parece afastar as prateleiras;
forte, inocente, ensanguentado e jovem
ele irá por sua selva, e sua manhã,
marcando seu rastro na lamacenta
margem de um rio cujo nome ignora
(Em seu mundo não existem nomes, nem passado, nem porvir
somente o instante exato.)
E vencerá as bárbaras distâncias
e farejará na renda labiríntica
dos aromas, o aroma do veado.
Por entre as raias do bambú, decifro
suas raias e pressinto a ossatura que vibra
sob a pele esplêndida.
Em vão se interpõem os convexos
mares e os desertos do planeta;
desta casa, de um porto da América do Sul, te sigo e sonho
ó tigre das margens do Ganges.
Cresce a tarde na minh'alma e reflito
que o tigre evocativo do meu verso
é um tigre de símbolos e sonhos,
uma série de tropos literários
e de memórias de enciclopédia
e que o tigre fatal, azíaga jóia, que,
sob o sol ou a diversa lua,
vai cumprindo em Sumatra ou Bengala
sua rotina de amor, de ócio e de morte.
Ao tigre dos símbolos, opus
o real, o que tem sangue quente,
o que dizima a manada dos búfalos
e hoje, 3 de agosto de 1959,
estende sobre a planície uma pausa
da sombra, mas já o fato de nomeá-lo
e de conjecturar sua circunstância,
o faz ficção artística e não criatura
viva das que andam pela terra.
Um terceiro tigre busquemos. Este
será como os outros uma forma de meu sonho,
um sistema de palavras humanas
e não o tigre vertebrado
que, mais além das mitologias,
pisa a terra. Bem sei, entretanto,
que algo me impõe esta aventura indefinida
insensata e antiga, e persevero
em buscar pelo tempo nesta tarde
o outro tigre, o que não está no verso.

11/04/2010

Miragens........!?





Algumas atitudes de muitos brasileiros:


- bater papo no celular enquanto dirige;

- estacionar em fila dupla ou tripla, em frente às escolas de seus filhos;

- não respeitar a lei do silêncio;

- dirigir após ingerir bebida alcoólica;

- "furar" fila nos bancos;

- colocar mesas e churrasqueiras nas calçadas;

- pedir atestado médico(sem estar doente!) para faltar ao trabalho;

- fazer "gato" para não pagar conta de luz, água ou tv a cabo;

- comprar recibo para obter abatimento na declaração do imposto de renda;

- pedir nota fiscal superfaturada, de refeições, quando viaja a trabalho;

- vender doações de campanhas para vítimas de catástrofes;

- estacionar em vagas exclusivas para deficientes físicos;

- adulterar o velocímetro do carro para vendê-lo como se tivesse pouca quilometragem;

- comprar produtos "pirata", tendo plena consciência disso;

- emplacar o carro fora do domicílio para pagar menos IPVA;

- levar pra casa envelopes, clips, canetas do seu local de trabalho, como se fosse "a coisa mais natural do mundo"!;

- vender vale-transporte e vale-refeição que recebe da empresa onde trabalha;

- trafegar pela direita nos acostamentos, quando há um congestionamento;

- tentar subornar quando comete uma infração;

- estacionar nas calçadas, mesmo com placas proibitivas;

- saquear cargas de veículos acidentados nas estradas;

- não educar os filhos desde crianças para serem honestos, dignos, responsáveis, solidários e sem preconceitos.

Não conheço a pessoa que se deu ao trabalho de elaborar essa lista, que aliás, é bem
mais extensa. No final dela o autor nos chama a atenção sobre o que exigimos dos políticos, ponderando que estes, fazem parte desse mesmo rol que pratica essas "irregularidades"!
Creio que vale a pena refletirmos sobre o assunto...

08/04/2010

Pérolas Nacionais...


Quem se mata de trabalhar merece mesmo morrer!

Millôr Fernandes


Das três melhores coisas da vida a segunda é comer e a terceira é dormir.

Stanislaw Ponte Preta


Ultimamente tenho feito a dieta da sopa...

Deu sopa, eu como!!

Cláudia Trepichio


Quando estamos fora, o Brasil dói na alma;
quando estamos dentro, dói na pele.

Stanislaw Ponte Preta


Não é triste mudar de ideias; triste é não ter ideias para mudar!

Barão de Itararé


A minha vontade é forte, mas a minha disposição de obedeer-lhe é fraca.

Carlos Drummond de Andrade


Quem mata o tempo, não é assassino, é suicida.

Millôr Fernandes


O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.

Stanislaw Ponte Preta


A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é a prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento.

Stanislaw Ponte Preta