Tanta coisa que eu não sabia. Nunca tinham me falado, por exemplo, deste sol duro das três horas. também não me tinham avisado sobre este ritmo tão seco da vida, desta martelada de poeira. Que doeria, tinham me avisado. Mas o que vem para a minha esperança do horizonte ao chegar perto se revela abrindo asas de águia sobre mim, isso eu não sabia. Não sabia o que é ser sombreada por grandes asas abertas e ameaçadoras, um agudo bico de águia inclinado sobre mim e rindo. E quando nos álbuns de adolescente eu respondia com orgulho que não acreditava no amor, era então que eu mais amava; isso eu tive que aprender sozinha. Também não sabia no que dá mentir. Comecei a mentir por precaução, e ninguém me avisou do perigo de ser tão precavida; porque depois nunca mais a mentira descolou de mim. E tanto menti que comecei a mentir até a minha própria mentira. E isso ´já atordoada eu sentia - isso era dizer a verdade. Até que decaí tanto que a mentira eu a dizia crua, simples, curta: eu dizia a verdade bruta.
Clarice Lispector
Clarice Lispector
Querida Ci, muita saudade daqui e de ti!
ResponderExcluirOlha, esse pc me deixou incomunicável, quase me senti uma prisioneira numa cela sem poder compartilhar com meus amigos. Já notou? A gente gosta e "se vicia" em visitar espaços como o teu. Aqui sim, tudo é primoroso e verdadeiro. A propósito disso, temos essa maravilha de texto de Clarice. Tenho uma historinha meio engraçada sobre a minha relação livresca com ela, mas vou contá-la assim que passar o feriado. Agora, o tempo anda muito espremido.
Um ótimo feriado pra você! Aproveite e curta bastante.
Beijinhos mil!!!
[como sempre, adorei o lay]