DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

15/12/2014

O Banquete

 Nestes tempos de muito consumo e de muita comilança lembrei-me de O banquete, de Platão,(427 a.C. 347 a.C.) onde ele nos relata uma reunião de amigos da qual participaram Sócrates, Aristófanes, Agaton e outros filósofos de Atenas, que tinham como desafio fazer a melhor definição de Eros (o Amor). Segue abaixo um pequeno trecho da fala de Aristófanes:
 
[...] Parece-me que os homens não perceberam nada do poder de Eros. Se o tivessem percebido, dele seriam os templos mais imponentes, os mais vistosos altares teriam sido erguidos em seu louvor, para ele arderiam os mais fartos sacrifícios. Não seria como agora, quando nada disso se vê, embora necessitemos dele acima de tudo. Eros é, ao que tudo indica, o mais filantrópico dos deuses, o mais benéfico aos homens, médico de males que, ao curar proporciona o mais completo bem-estar ao gênero humano. [...] Importa que compreendam primeiro a natureza humana e as características dela. Nossa natureza primitiva não era a atual, era diferente. Para começar, a humanidade compreendia três sexos, não apenas dois, o masculino e o feminino, como agora. O andrógino era então, quanto à forma e à designação, um gênero comum, composto do macho e da fêmea. (...) A forma de cada homem era um todo esférico. O dorso e os flancos fechavam-se em círculo. Cada um desses seres era provido de quatro mãos; movia-se com igual número de pernas. Um pescoço torneado sustinha dois rostos, semelhantes em tudo. Uma era a cabeça em que se opunham dois rostos. Os rostos ostentavam quatro orelhas e um par de genitais, a exemplo destes, dobrados eram os outros órgãos. Andavam eretos como os homens de agora em qualquer direção que se locomovessem.(...)De pernas erguidas, formavam uma roda. Rolavam céleres com seus oito membros estendidos. Três eram os gêneros. O gênero masculino primitivo era descendente do sol, o feminino, da terra; o que reunia os dois gêneros em si mesmo, descendia da lua, dotado de características desses dois astros. Lembravam os genitores na circularidade e no deslocamento. Terríveis na força e no vigor, extraordinários na arrogância, desafiaram os deuses. (...) Ao cabo de cansativa deliberação, sentenciou Zeus: "Julgo ter encontrado um recurso para preservar os homens e enfraquecendo-os deter a insolência. Seccionarei cada um em dois para torna-los mais fracos e mais prestativos a nós visto que serão mais numerosos. Andarão eretos, sustentados por duas pernas. Se mesmo assim continuarem insolentes, se não se aquietarem, desferirei outro golpe para deixá-los saltitando numa perna só". Com esse decreto Zeus cortou o homem em dois como se partem sorvas para conserva ou como se dividem ovos à crina. A cada golpe, Apolo, sujeito a ordens, virava o rosto e o pescoço partido na direção do corte com o objetivo de tornar mais ordeiro o homem ciente de sua própria mutilação. Apolo mudou-lhe a direção do rosto, puxou a pele de todos os lados para o ventre, nome atual, como se faz para produzir uma bolsa. Os movimentos dirigiam-se decisivos ao centro, deixando uma abertura, agora chamada umbigo. (...) Como a natureza humana foi dividida em duas, cada uma das partes, saudosa, unia-se  à outra, aos abraços, ardentes por se confundirem num único ser. Morriam de fome e de inércia, porque não queriam fazer nada separadamente. Quando morria uma das partes, a sobrevivente procurava outra e a estreitava nos braços. A meia-mulher procurava outra meia-mulher(mulher agora), o meio-homem procurava outro meio-homem e assim se aniquilavam. Condoído, Zeus transportou as partes pudendas para a frente. Eles as traziam, como agora, fora do corpo, mas geravam e se reproduziam não unidos um com o outro, mas em comércio com a terra, como as cigarras. O propósito era este: se o enlace fosse de um homem com uma mulher, haveria descendência e a constituição de uma família, mas se dois homens se abraçassem, a conjunção os devolveria tranquilos ao trabalho, às outras ocupações do dia a dia. Eros, que atrai um ao outro está implantado nos homens desde então para restaurar a antiga natureza. faz de dois um só e alivia as dores da natureza humana. Cada um de nós é, portanto, a metade complementar de outro (um símbolo). Somos como uma das partes de um linguado cortado ao meio, dois formando um. Cada qual anda à procura de seu próprio complemento.

Como podemos ver, essa busca continua até os dias atuais. Com ou sem Deus, mutilados ou não, cada um de nós carrega em si uma certa dose de arrogância. Mesmo necessitando uns dos outros, poucos são aqueles que o admitem, raros os que de fato se preocupam uns com os outros.
Façamos um banquete universal no qual todos possam compartilhar!!!

Um comentário:

  1. SI, CREO QUE SENTIR AMOR POR MÁS PERSONAS, ES MÁS IMPORTANTE QUE SENTIR AMOR SÓLO POR UNA.
    UN ABRAZO

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