DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

11/02/2015

Quando o sol queima a água



Ainda era criança quando o sol pôs-se a cair. Brincava com ele sem atinar com os perigos do fogo; sem conhecer a dor não imaginava as rachaduras que seus raios deixariam no peito então transbordante de rios perenes e margens férteis.
Ouvia o cantar do rei do terreiro todas as manhãs, mas cantarolava sua própria canção; encantava-se com a luz do luar confundindo dia com noite. Aos poucos sua boca foi se transformando numa imensa saia franzida cujas margens se alargaram à medida que o astro ía ficando cada dia mais inclemente.
A água escorreu entre as fissuras da terra deslizou pela face entre sussurros e soluços deixando muitas bocas cheias de pedras, de falhas, formando uma imensa falésia de silêncio,  desolação e fome..

2 comentários:

  1. SINO SABEMOS PLANTAR, TAMPOCO SABREMOS RECOLECTAR. MUY REFLEXIVO TEXTO.
    UN ABRAZO

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  2. Onde vais, sol que eu canto...
    Realidades com danos colaterais, realidades à mercê de avaros apetites.
    Ah, toca-me muito essa costela solidária, Ci!

    Um beijo :)

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