Silêncio
De pedra ser.
Da pedra ter
o duro desejo de durar.
Passam as legiões
com seus ossos expostos.
Chorem os velhos
com seus casacos de naftalina.
A nave branca chega ao porto
e tinge de vinho o azul do mar.
O maciço da rocha,
de costas para a cidade
sete vezes destruída,
celebra o silêncio.
A pedra cala
o que nela dói.
Fachada
Logo vai terminar o prazo
para o homem construir sua fachada.
Ele continua em andaimes.
Provisório.
Exibe máscaras cambiantes.
Sua face inconclusa,
sustentada por ferragens,
parece esconder que,
em todos esses anos de obra,
esqueceram-se inúteis plataformas
para edificar um escombro.
Uso
O uso dá caráter às coisas
como se o tempo maturasse
em suas moléculas
uma severa arquitetura.
A virtude do menos
enobrece a casa
com sua recusa
de adornos sem serventia.
O que o homem gasta
em suas mãos
adquire a aura
de suas dores.
Donizete Galvão é natural de Borda da Mata(MG). É autor de Do silêncio da pedra e O homem inacabado.
Impossível para mim voltar à blogosfera após uns tempinhos de acertos no mundo real e não te visitar, mesmo com esse computador problemático de pouca memória [risos].
ResponderExcluirTrês poemas e um layout que "dizem" muito, aliás, como sempre.
Querida Ci, beijos para ti!
Tres hermosos poemas que he leído en alto con el placer de oír tu lengua, aunque sea con mi acento raro, pero es que me gusta mucho su sonido.
ResponderExcluirConecto con la saudade y la sabiduría que viaja por los versos de Donizete Galvão
Genial ese esfuerzo del hombre para acabar construyendo un escombro. Una metáfora de nuestra época.
Me gusta pasar por aquí, Cirandella.
Un beso,