DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

07/11/2016

Minha tristeza de porcelana

Kate Macdowell


Minha tristeza de porcelana, minha tristeza
de todos os momentos, disse: queres casar comigo?
Hoje estás tão esquiva e tão vulgar,
tão cotidiana, tão humana,
minha pobre tristeza.
Ouve: quero beijar-te toda;
beijar-te dos pés à cabeça,
doidamente, num arrepio
E possuir o teu pequeno corpo,
teu frágil e pequenino corpo,
onde escondes uma alma tiritante de frio.
Minha tristeza de porcelana,
és como um vaso chinês, onde floresce, longo,
o lírio artificial da minha dor.
Se alguém te esfacelasse.
se alguém, um pobre alguém,
te apertasse entre os dedos,
e eu te perdesse,
que seria de mim?
Não tenho o luxo dos prazeres ricos,
não tenho o dinheiro que é preciso
para vestir a minha alma um pijama de seda
com que ela passeia o seu tédio na alameda
vazia e branca da minha vida.
Vê, eu só tenho dois olhos
para te olhar, minha tristeza;
só tenho duas mãos para apertar as tuas mãos.
 
Carlos Drummond de Andrade


2 comentários:

  1. ¿Quién no tiene muy adentro un alma que tirita de frío, de soledad en algunas ocasiones? ¿Quién no tienen una tristeza antigua, frágil como una porcelana?

    Hermosos versos.

    Un beso,

    ResponderExcluir