DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

13/05/2017

Antonio Cândido - Direitos humanos e Literatura (excertos)


 
 

A literatura tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afetivo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudiciais, estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e
da ação dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e
combate, fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas.
[...] O processo que confirma no homem aqueles traços, que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrarmos
nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos à natureza, à sociedade e ao semelhante. [...] A literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar as situações
de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a mutilação espiritual.
Portanto, a luta pelos direitos humanos abrange a luta por um estado de coisas
em que todos possam ter acesso aos diferentes níveis da cultura. A distinção entre cultura popular e cultura erudita não deve servir para justificar e manter
uma separação iníqua, como se do ponto de vista cultural a sociedade fosse dividida em esferas incomunicáveis, dando lugar a dois tipos incomunicáveis de
fruidores. Uma sociedade justa pressupõe o respeito aos direitos humanos, e a
fruição da arte e da literatura em todas as modalidades, e em todos os níveis é um direito inalienável.
 
 
Antônio Cândido de Mello e Souza nasceu no Rio de Janeiro em 24.07. 1918 e faleceu em 12.05.2017. Formou-se em Sociologia e Filosofia na Universidade
de São Paulo, tornando-se um estudioso da literatura brasileira; é considerado um dos melhores críticos sobre o assunto. Tem publicado Formação da Literatura brasileira, Direitos humanos e Literatura, Um funcionário da monarquia, O romantismo no Brasil, Textos de intervenção, entre outros.

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