Muito se engana quem pensa que os guardas e a disposição das sentinelas
protegem o tirano. Creio que esse recurso é utilizado mais por uma questão de formalidade do que de confiança. Os arqueiros proíbem a entrada no palácio
aos mal vestidos que não têm recursos, não aos bem armados que podem praticar algum mal. Não são os bandos de gente a cavalo, as pessoas a pé ou as armas que defendem o tirano. São sempre quatro ou cinco que mantém o tirano - quatro ou cinco que o ajudam a conservar o país inteiro servil. Sempre
foi assim: cinco ou seis são ouvidos pelo tirano e dele aproximam-se ou são por ele chamados para serem cúmplices de suas crueldades, os parceiros dos seus
prazeres, os proxenetas de suas volúpias e sócios dos bens provenientes de suas pilhagens. (...). Esses seis têm seiscentos que crescem abaixo deles e fazem de seus seiscentos o que os seis fazem ao tirano. Esses seiscentos conservam debaixo deles seis mil, cuja posição elevaram, aos quais fazem dar ao governo das províncias o manejo do dinheiro para que tenham na mão sua
avareza e sua crueldade, exercendo-as no momento oportuno.(...) Grande é
o séquito que vem depois, e quem quiser divertir-se desmanchando essa rede
não verá os seis mil, mas os cem mil, os milhões que através dessa corda agarram-se ao tirano. (...) Em suma: que se chegue lá através de favores ou sub-favores, os ganhos que se tem com o tirano; ocorre que ao final há tanta gente para quem a tirania é proveitosa quanto para aqueles para quem a liberdade seria fundamental.
Etienne de La Boétie, (1530-1563) poeta e filósofo francês que faleceu aos trinta e dois anos de idade, deixando sua obra para Michel de Montaigne, ((1533-1592) seu grande amigo, autor de "Os ensaios".
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