DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

11/07/2017

Manifesto antropófago (trechos)

Só a antropofagia nos une. Economicamente. Filosoficamente.
 
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos
os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
 
Tupi, or not tupi that is the question.
 
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
 
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
 
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano
informará.
 
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a
hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No
país da cobra grande.
 
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável
da vida.
 
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos
Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
 
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita
lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o
dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
 
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
 
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu na terra de Iracema, -
o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
 
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D.João VI:
- Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça!
Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações
e o rapé de Maria da Fonte.
 
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias
do matriarcado de Pindorama
 
 
Oswald de Andrade (1890-1954)
Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha. - 1928 
Em Obras completas-6

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