DE CHARLES BUKOWSKI (1920-1994)

Arder na água, afogar-se no fogo. O mais importante é saber atravessar o fogo.

23/05/2018

A POESIA ME PEDE A MÃO


Peça perdão a seus leitores pelas trevas de sua ignorância. E aconselhe-os a preencherem as lacunas
do silêncio com os voos da fantasia.



A poesia me pede a mão
sussurrando ao pé do ouvido:
pega caneta e folha.
Tira a roupa que te atrapalha.
Joga fora a máscara diária.
Vamos ao recôndito reino
lá pelas ínvias estradas
do soterrado labirinto
onde ardem tuas fogueiras
e tristes se amoitam sombrias.
Liberta, vem desbravar
matas afundar em rios
penetrar grutas e estradas.
Depois contempla o papel:
lá encontrarás em palavras
teus infernos e teus céus.

Baínha aberta

Cava em meu corpo essa espada crua.
Quero o ardor e o êxtase da luta
em que me rendo voluntária e nua.
Meu temor é a paz pós-união:
desenlace derrota solidão.

Modo de amar

Amor como tremor de terra
abalando montanhas e minérios
nas entranhas da minha carne.
Amor como relâmpagos e sóis
inaugurando auroras
ou atirando faíscas e incêndios
nas trevas da minha noite.
Amor como açudes sangrando
ou caudais tempestades
despencando dilúvios.
E não me falem de ruínas
nem de cinzas, nem de lama.

Astrid Cabral - Manaus (AM), 1936 -  


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